Há exatos dois meses e dois dias se completando hoje, questionávamos aqui se a dupla então formada Rodrigo Garcia/Geninho Zuliani como candidatos à reeleição de governador e seu vice, seria “uma jogada de mestre” ou “um tiro no pé”. Quem leu em Geninho vice de Garcia, ‘jogada de mestre’ ou ‘tiro no pé’?, postado em 6 de agosto, quando do anúncio-surpresa da dobradinha, vai se lembrar.
A dupla, que de imediato foi apelidada de “pão-com-pão”, por representar um mesmo segmento de público-eleitor, causou surpresa com o anúncio a tantos quantos aguardavam um ou uma vice chave para Garcia, e um Geninho aguerrido na busca pela reeleição à Câmara Federal, a condução “quadradinha” e perfeita para a campanha de ambos, na visão dos entendidos.
Notem que os dois separados seriam um a força do outro, engrenagens que se retroalimentariam. Juntos, perderam força. Fraqueza que, aliada à mesmice e à apatia da campanha, à falta de uma identidade ideológica, e até mesmo à tentativa de esconder o patrono João Dória, que lhes dera a oportunidade de galgar o posto máximo do Estado, custou o futuro político de ambos.
Para muito além do desaforado “eu avisei”, seria interessante para quem não o fez e mesmo para aqueles que o fizeram poder refrescar a memória, uma busca nos nossos arquivos pelas postagens que trataram unicamente de Garcia e Geninho, a partir de 6 de agosto.
Ali está contada a trajetória da malograda campanha, seu começo errático, seu desenrolar anempático envolto em um tanto de soberba e arrogância, e tão pouco em criatividade, ousadia e firmeza.
O resultado, que trataremos agora, todos já sabem. Assim como todos já sabem o constrangimento que foi Garcia e Geninho se atirarem nos braços de Bolsonaro e serem rejeitados por Tarcísio de Freitas, o candidato ao posto de governador, chamado de “carioca” pela campanha rodriguista, e até mesmo por Bolsonaro, cuja expressão facial ao lado de Garcia deu bem a medida do seu desprezo.
A nosso ver, este “pulo do gato” tentado, à revelia dos cabeças do partido, daqueles que fundaram a histórica sigla, que há 30 anos detinha o Estado nas mãos, falhou, da forma mais retumbante e vexatória possível.
Na “trilha” de postagens deste blog o leitor vai perceber que fazíamos o alerta quanto à possibilidade de Garcia vir a ser o “coveiro” do PSDB no Estado, e quanto isto lhe custaria politicamente.
Porém, a situação se torna ainda mais grave quando este, não contente em tirar a sobrevida dos tucanos no país, ainda correu de imediato a jogar seus restos na vala da extrema-direita, de onde os figurões do tucanistão trataram de tirar.
Ou alguém vê ou ouve falar do apoio de Garcia e Geninho na campanha bolsonarista ou tarcisista, este ainda dizendo que “não fazia sentido” estar ao lado de Garcia ou, traduzindo, não precisava dele para ter os votos dele. Vergonha alheia à máxima potência.
Não nos arrogando vaidades desnecessárias, e tirando o acontecimento inesperado e atabalhoado da dupla se bandeando para o lado da “força do mal”, este blog narrou ponto a ponto a caminhada já antevendo seu resultado, nas entrelinhas.
Não por vidência, adivinhação ou coisa que as valha, mas muito mais por capacidade de observação e compreensão do que estava acontecendo, para nós algo impressionante que pessoas tão preparadas no entorno da dupla não estivesse percebendo. Sabem o tal do óbvio ululante? Então…
Interessante que se diga também que, até hoje, Geninho e Rodrigo Garcia nunca haviam perdido uma eleição. Rodrigo desde os tempos em que fazia uma dobradinha imbatível com Kassab -para os braços de quem, dizem, escolheu voltar ao pedir “bênção” a Tarcísio em São Paulo (Kassab é um dos principais coordenadores da campanha do “carioca”)-, e Geninho, que quando perdeu, ganhou.
Explico: Quando decidiu disputar uma cadeira à Câmara de Vereadores na Estância, em 1996, o então muito jovem Zuliani empatou em número de votos com o saudoso Vicente Augusto Baptista Paschoal, o Guga, que acabou tomando posse por ser mais velho. Ambos receberam 438 votos.
Passados alguns poucos meses, Zuliani acabou assumindo enquanto primeiro-suplente do PMDB, em lugar de Nego de Melo, que adoecera. A partir daí, o olimpiense que se bandeou para São José do Rio Preto não perdeu mais nenhuma eleição. Até o último domingo. Agora resta saber o que será de ambos no âmbito político-eleitoral.
É de se imaginar que Garcia está envolto numa situação absurdamente desagradável frente aos “caciques” tucanos e, não demora muito vai voltar às suas origens, à direita que não ousa dizer o próprio nome. Por si mesmo, ou por defenestração. Ele não tem mais o que fazer no partido, não agregou coisa alguma, não faz um bom “resto” de gestão, não edifica o “santo” nome PSDB.
E Geninho? De líder de uma fração antes do DEM hoje União Brasil, passará a ser um coadjuvante implorando por espaços e atenção? Não é do seu feitio. Mas fica a impressão de que a partir de 2023 será um mero segundo ator no meio desta plêiade de gigantes da política esquizofrênica que se faz no país.
Vão amargar quatro anos de ostracismo?
E Geninho nem pode alimentar pretensão de voltar à prefeitura de Olímpia daqui a dois anos, pois seu gesto de mudança para Rio Preto soou aos corações dos olimpienses um menosprezo, diminuídos que foram ante a gente rio-pretense, entendida como mais “gente” que a “gente” da Estância.
E não deve alimentar sonhos de se candidatar em Rio Preto junto com Garcia, que por lá houve gente mais vitoriosa que eles, que perderam feio, ficaram na terceira posição, com mais de 79,2 mil votos de vantagem para Tarcísio de Freitas. E, pasmem!, quase 2,9 mil votos abaixo de Haddad -Garcia recebeu 50.429 votos em Rio Preto, dos 239.043 válidos. E a cidade elegeu deputados.
E em Olímpia, na “hora da onça beber água”, Garcia até que foi bem, se contarmos apenas o resultado final, quando recebeu só 561 votos a menos que Tarcísio -11.940 a 11.379.
Tratando cá da nossa província, se Zuliani não tivesse tomado a decisão que tomou, e permanecesse como fiel da balança por aqui, não estaria claro que talvez Garcia recebesse quantia bem superior de votos? Ou, quantos anti-petistas votaram em Tarcísio por “ranço” a Garcia motivado pelo vice?
Claro que maior número de votos aqui, em nada mudaria o quadro de derrota estadual. Mas manteria Zuliani como o histórico vitorioso desta urbe. Achamos que vencer aqui serviria para pelo menos alimentar seu ego. Fazê-lo sentir que ainda possuía uma “residência” política não-física. Mas, perder aqui, também, fez dele um pária eleitoral.
São questões que ficam. Pormenores, porém, nem tão desimportantes. E talvez seja cedo para cravar aqui que a dupla dinâmica está morta e enterrada em suas pretensões. A política é dinâmica. Geninho é dinâmico.
Deste modo, o bom senso nos diz para aguardarmos os próximos capítulos. Assim que a poeira assentar, vai ser possível vislumbrar o horizonte. E lá estará a luz. Resta saber, com que intensidade…