Partindo da premissa mais grave, a demissão por iniciativa própria da secretária de Saúde, Lucineia Santos, na semana retrasada, passando por outra levada por certas circunstâncias, da chefia de Gabinete, e ainda outras por virem, conforme fervilha nas rodas e corredores, pode se dizer que sim, o nascente governo Cunha está em crise, evidenciada antes mesmo de completar os 100 dias, ou a partir deles.
A impressão que dá, também, é a de que Cunha estaria tendo dificuldades para formar uma coalizão, um grupo de apoio forte, o chamado “núcleo duro” de governo, dizem que, em grande parte, por sua própria causa. Há testemunhos de gente próxima que Cunha “não é mais o mesmo”, desde que assumiu a cadeira principal da Praça Rui Barbosa, 54.
O prefeito, o que tem de mais próximo de si é “herança” genista, ou seja, seu secretário de Governo, Guto Zanette. Longe dali, em outra secretaria, outra “herança” genista (embora sempre tenha sido um outsider), Salata, como titular em Turismo. Sandra Lima, alçada à condição de secretária de Saúde, funcionária de carreira, já ocupou secretarias no governo passado (embora digam à boca pequena que Cunha estaria cumprindo compromisso de campanha ao nomeá-la).
A titular anterior, diga-se de passagem, era do “protetorado” do vice Fábio Martinez, segundo consta, por isso Cunha não fez nenhuma questão de contemporizar seu descontentamento à frente da Pasta. A nomeação de Sandra, consta, teria sido feita sem consulta prévia ao vice.
Do “protetorado” de Martinez é também o profissional médico que substituiu o cardiologista olimpiense José Carlos Ferraz, Lúcio Flávio Barbour Fernandes. Não vamos aqui aprofundar comentários que dão conta de uma já conflituosa relação entre o prefeito e seu vice, por meros detalhes, bem como com seu mentor eleitoral, Nilton Martinez, pai de Fábio.
Bom, mas os tremores sísmicos do governo Cunha não se resumem aos fatos narrados. Pelos próximos dias podem vir novidades. E uma delas, dada como certa, é a volta de Salata à Câmara, deixando o Turismo e tirando Sargento Tarcísio da cadeira que lhe pertence no Legislativo. Dizem que o próprio chegou à conclusão de que ele e o turismo não têm nada a ver. Há pouca visibilidade e liberdade de ação com o centralismo pessoal de Cunha.
Também comentam nas rodas, que Guto Zanette pode pegar seu “boné” brevemente, abrindo uma lacuna enorme no Governo. Zanette não é vereador, portanto, neste caso a Casa de Lei não sofrerá nenhum abalo.
Não há nomes especulados para as duas vagas, embora para o Gabinete chegou-se a aventar a possível volta de Paulo Marcondes, o Paulinho da Uvesp, porém ele está com compromissos fortes com o prefeito de Altair, Antonio Padron, que começa a articular sua candidatura a estadual para 2018.
Marcondes, que seria outra “herança” genista, já havia sido sondado para a provedoria da Santa Casa (e este é outro episódio que demonstra claramente a falta de articulação de Cunha, que não consegue aglutinar gente em seu redor, uma base de sustentação, como todo mandatário necessita), mas recusou de pronto.
E isso ainda não é tudo. Há fortes rumores de que a Câmara ensaia uma rebelião. Há muita insatisfação no meio legislativo entre vereadores que são ainda a base de sustentação de Cunha na Casa de Leis. E por “enes” razões, uma delas por excessivo privilégio a “uns”, e agrura total a “outros”. Bem como pelas dificuldades de aproximação.
Se Cunha quiser manter-se tranquilo na condução dos interesses do povo olimpiense, tem que circular, participar, conversar, aparar uma aresta aqui, outra acolá, atender um parceiro nisto ou naquilo e, acima de tudo, “lustrar” sua imagem interna cercando-se de pessoas que saibam fazer a boa política, afinal, política é também relações públicas. Ou não?
E o entorno do prefeito, conforme se ouve e se vê por aí, está ruim, politicamente falando. Cunha é ruim no trato político. Pouco jogo de cintura, muito personalismo, individualismo desnecessário e falta de, como já dissemos acima, capacidade de aglutinação. Ou desinteresse puro.
De qualquer forma, o alcaide precisa se decidir com quem quer competir à frente do governo municipal. Com qual “fantasma” quer se debater. Se for o governo passado, tem que correr, e muito. Tem que mudar, e muito, no aspecto político também. Se for com o antecessor do antecessor, está caminhando bem. Todos os ingredientes estão presentes.
Mas, à boca pequena já se diz por aí que Cunha caminha, inexoravelmente, para se identificar com o antecessor, do antecessor, do antecessor, do seu antecessor. Com o qual, aliás, rompeu quando era deputado estadual. Portanto, ele sabe muito bem do que o povo já está falando. E das implicações por vir….