Em entrevista concedida pelo prefeito Fernando Cunha (PR) a uma emissora de rádio local, na segunda-feira, 13, de tudo o que foi dito ganhou relevância um detalhe não-explícito de sua fala. O prefeito, na medida em que vai tomando assento no cargo de fato, vai também percebendo o mar de dificuldades e já começa a ensaiar o discurso da “herança maldita”.
E esta “herança” seriam as obras por acabar, como a urbanização da Aurora Forti Neves, a Estação de Tratamento de Esgoto, a Estação de Tratamento de Água, a ETA seca, a creche do Morada Verde, todas entregues ao novo mandatário com mais da metade concluída. Um outro projeto gigante, o aeródromo, foi entregue apenas no papel, com parte de área comprada, que Cunha vai abandonar.
No caso da avenida, Cunha diz ter tido problema técnico, porém solucionáveis a médio prazo, e no caso da ETA, o alcaide diz ser impossível tocar o projeto nos moldes em que foi elaborado. Pretende abandona-lo também.
De cinco obras grandes e importantes, Cunha já desistiu de duas. Outras três, por imprescindíveis, deverá toca-las até o fim. As três, coincidentemente ou não, já têm recursos alocados, seja do Estado, seja da União. Até mesmo a ETA seca tinha recursos alocados. Somente o aeródromo era dinheiro do caixa próprio.
Esta semana surgiram informações sobre um eventual abandono de 50% da frota de ambulâncias, todas avariadas, algumas já fora de uso e outras recuperáveis. De 21 unidades de pronto-atendimento, 11 estavam paradas. Cunha arriscou dizer que talvez isso tenha ocorrido por ser “fim de governo” e por isso o desinteresse em recuperar tais veículos.
Bom, ele tem agora a chance de resolver o problema. Haja vista que, segundo informações extra-oficiais, o caixa da Saúde teria sido entregue a ele recheado com R$ 3 milhões. Outros R$ 2,4 milhões seria o saldo entregue a ele pela Daemo, além de R$ 1,6 milhão disponível no caixa da própria prefeitura. A Prodem chegou com mais de R$ 1,5 milhão de prejuízos, mas aí já é outro assunto.
Convenhamos que para os dias turbulentos e incertos que o país atravessa também no aspecto econômico, e tendo um prefeito que não via vantagem do dinheiro em caixa mas, sim, sendo investido em uma coisa ou outra, que muitos chamavam de perdulário, não é pouca coisa.
Cunha não reclamou até agora, pelo menos, de dificuldades financeiras prementes. Ou seja, teria recebido uma prefeitura “redondinha”, malgrado pequenos detalhes aqui e ali. Tecnicamente, uma prefeitura “grande”, que ele pretende “enxugar”, porém espera-se sem problemas de continuidade, e administrativamente, recebeu uma prefeitura sem carências, embora cada mandatário tenha lá sua visão de mundo.
Este comentário é apenas uma precaução para o caso de a tal “herança maldita” se tornar um mantra na atual gestão, que não a teria vislumbrado quando da transição de governo. Ao contrário, até elogiou o legado.
Portanto, se tal assertiva passar a constar de forma rotineira nas falas de Cunha, será irresistível crer que o problema não está no que ele recebeu. Mas nele próprio.