Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Tag: Eta seca

CUNHA E SUAS JUSTIFICATIVAS INJUSTIFICÁVEIS

No dia 20 passado, logo pela manhã, publicamos neste espaço um texto tratando do problema relacionado com a Estação de Tratamento de Esgoto-ETE, obra parada no final da gestão passada que continua, um ano já desta gestão, na mesma situação.

Falamos aqui, entre outras coisas, que “o prefeito de turno, que parece muito mais dedicado às questões do turismo na cidade -para o bem e para o mal-, está conduzindo muito aleatoriamente um problema tão central, tão drástico e tão fundamental, que teria que ser o primeiro a ser resolvido, antes mesmo da expansão da Aurora Forti Neves, obra de R$ 3 milhões, ou a construção de um inútil “girino multicor” na Praça Rui Barbosa, ou a reforma da própria praça, tudo por outros R$ 3,5 milhões.”

Não demorou muito e, naquele mesmo dia, veio a resposta do alcaide, via um daqueles seus canais de propaganda travestido de jornalismo: “Obra da ETE está travada no jurídico do governo do Estado”.

Repararam que há sempre uma justificativa, por mais injustificável que seja aquilo que o prefeito quer justificar? E que nunca é de responsabilidade dele o problema? É sempre por alguma razão, algum entrave, alguém, algum órgão. Dizem até que ele andou ressuscitando a tal “herança maldita”, que curiosamente ele não vislumbrou quando da transição “de corpo presente”.

Disse o prefeito que a obra “está travada no departamento jurídico do Governo do Estado de São Paulo”. E mais: que “há um entrave jurídico entre o DAEE (Departamento de Água e Energia Elétrica), patrocinadora da obra, dentro do Programa Água Limpa, e a empresa responsável pelos serviços contratados, em relação principalmente à formalização de um novo aditivo”.

Já foi feito um, disse Cunha, mas “haveria necessidade de outro”, o que está sendo analisado ainda pelo departamento jurídico do órgão (Um ano de análise?). O alcaide falou em “imbróglio jurídico” em torno do assunto.

Faltam R$ 18 milhões para a conclusão da obra, além do que, “esse travamento aponta para uma demora ainda maior”. Ou seja, não sonhem com a solução do problema para tão já. Talvez nem para o ano que vem. Ou, pior, talvez nem para sua administração inteira, pelo andar da carroça.

E isto tudo, para realizar somente 40% das obras, que seu antecessor já deixou mais da metade pronta. A concepção é suficiente para atender a uma população estimada de 61 mil habitantes, como já foi dito aqui.

E, como este é um governo do improviso, dos “remendos”, lá vem: “Cunha informou que vai construir uma estação compacta, nos moldes da existente no córrego dos Pretos, na zona leste da cidade, com a finalidade de tratar o esgoto que é despejado no Olhos D’Água”. Um governo das coisas pequenas.

Só para frisar bem, todos se recordam claramente da verdadeira guerra que se armou contra a construção da lagoa de tratamento de esgoto do lado de cá da SP-425, no chamado “Vale do Turismo”, né?

Portanto, a questão a ser colocada é: se deixassem a municipalidade resolver a necessidade como se propusera a fazê-lo em meados dos anos 2000, não teria sido bem melhor para todos, eu disse todos, e não apenas para meia dúzia de barões do turismo?

Sim, porque o que era mais importante, então, recolher os outros mais de 80% de esgoto que ainda hoje, 15 anos depois, é jogado no Olhos D’Água, ou preservar área enorme para produzir dinheiro ao mesmo tempo que empreendimentos gigantes abarrotam nosso principal rio -que por fim desagua no Cachoerinha-, de dejetos humanos?

Preocupar-se com nosso maior “tesouro”, que é o turismo e sua inesgotável fonte de recursos, tem seus méritos. Mas o que não se pode admitir é a “maquiagem” para sustentar boa impressão. O turista vem e vai. Gosta ou não gosta. Mas o nativo aqui permanece, faça chuva ou faça sol. E este precisa de muito mais que simples ações cosméticas.

Antes, precisa de mudanças estruturais de peso, que façam a diferença. De equipamentos urbanos para que possa desfrutar no dia-a-dia. Afinal, é para isso que paga seus impostos.

E A ÁGUA?
Também neste setor, é chororô e mais chororô. Um coitadismo que já imaginávamos bem enterrado no passado administrativo da cidade. Diz Cunha que “o município precisa de aproximadamente R$ 60 milhões para aplicar no sistema e dar uma solução nos problemas existentes no seu fornecimento”.

As justificativas são as mesmas de governos anteriores, mas a postura, não. A postura é de um governo que treme à primeira dificuldade, e que busca a solução nos “remendos”, como já dito acima como, por exemplo, “curativos” nos vazamentos.

E sabem a ETA seca, modificada para a perfuração de um poço profundo para captar água do Aquífero Guarani (cada vez mais baixo em seu nível)? “Ainda depende de uma aprovação da Caixa Econômica Federal (CEF)”, informa o alcaide, que curiosamente consegue R$ 15 milhões para furar um poço, mas não R$ 25 milhões para resolver o problema como um todo do abastecimento de água. E toma-lhe poços e mais poços no Aquífero.

NÃO FOSSE O OLÍMPIA FC…

Por que Cunha (PR) rejeita tanto o ex-prefeito Geninho (DEM), não se sabe. Mas é um fato, a julgar pelas atitudes e decisões após ter assumido o cargo que o outro deteve por oito anos, sediado no Palácio da Rui Barbosa, 54.

Engraçado que antes da posse, Cunha não o demonstrava tanto, haja vista que a relação de ambos, no período de transição, era das mais amistosas, com direito até a elogios pelo legado feitos por Cunha.

Que tão logo tomou posse passou a destilar sua ojeriza com relação ao governo passado. De público ele tece críticas a determinadas coisas relacionadas àquele governo. Mas, na intimidade, dizem interlocutores, destila críticas ácidas a ele, e a tudo e todos que o lembram, enquanto ex-prefeito. Bom, vá lá, são coisas da mente, coração e alma. Sim, políticos também as têm.

Porém, o que pode estar havendo aí, na verdade, é a intenção de se distanciar do que foi ou representou o governo passado, frente àquilo que já se cristaliza no imaginário popular: que a atual gestão pode não sair do lugar a continuar com esta dinâmica que se tem visto.

Porque, se bem observado, já estamos quase na metade do quinto mês de governo, e nada de concreto, nenhuma ideia nova, nenhum projeto arrojado ou nem tão arrojado, que seja, emanou até agora da gestão Cunha.

Observem que as ações do prefeito tem se pautado em tentar dar continuidade ou iniciar obras e projetos a ele legados pelo governo passado. E olha que nem isso tem dado conta de fazer, quando observado de perto e atentamente. Ou segue a passos de tartaruga.

Tão lenta é esta administração que a única obra de peso – e o próprio prefeito não esconde que o projeto é da gestão passada – a do prolongamento da Aurora Forti Neves, por mais cerca de 1,5 quilômetro, teve aporte do Termas dos Laranjais, claro que num “escambo” com impostos e taxas, para poder ser levada a efeito. Ainda assim, para salvaguardar a urgência-urgentíssima do próprio clube.

Outra grande obra, no entanto, da qual depende apenas a capacidade de articulação do prefeito, a estação de tratamento de esgoto, do outro lado da SP-425, está parada já há quase quatro meses e meio neste governo, e esteve parada por outros tantos meses no governo passado. Mas competiria a este resolver a situação, por mais complexa que seja.

Foi anunciado recentemente que a urbanização da Aurora Forti Neves, no trecho entre a Benjamin Constant e Constitucionalistas de 32 seria retomada. E lá se vão pelo menos quinze dias e nada. Sem contar a “obrinha” desta mesma avenida, para conter inundações na região baixa do São Benedito, que parece estar sendo feita para esperar o segundo centenário olimpiense.

A estação de captação e tratamento de água do Jardim Luiza, a “ETA seca”, Cunha já anunciou que não levará adiante, propondo para aquela região um poço profundo e suas interligações. Mas, cadê o movimento por aquelas bandas?

Anunciou a aprovação do projeto de revitalização e transformação da Estação Ferroviária em um centro cultural, mas trata-se de ideia e projeto modificados do governo passado. O mesmo se pode dizer da transformação da Avenida dos Olimpienses (e não “Brasil” como ele mesmo a chamava até pouco tempo), que teve projeto herdado da gestão passada, também modificado.

Aliás, mudanças neste governo, só naquilo que não precisava. Pelo menos nos primeiros momentos. Cunha parou a máquina por pelo menos este período inicial de governo, para “apagar” todas as  digitais do governo passado. Um “capricho” político que lhe custou caro, porque despertou o sentimento crítico em relação a seu governo precocemente, até entre seus eleitores.

Trocou pessoas, e nem sempre por outras mais conhecedoras dos setores a que foram destinadas, implantou metodologias desnecessárias num primeiro momento, permitiu que gente de sua confiança implantasse o terror contra funcionários altamente capacitados herdados da gestão passada, trocados por outros, salvo raras exceções, medíocres; não solucionou as prioridades prometidas, ao contrário, em alguns muitos casos, as piorou, exemplo da saúde.

E assim segue o barco cunhista, que apenas deu uma respirada em termos de apelo popular, ao facilitar o ingresso de torcedores ao estádio em partida decisiva do Olímpia FC, e agora novamente, no jogo final, concretamente suas duas tiradas marquetológicas que resultaram positivas.

Mas, observem que o Olímpia FC não é obra dele, já existia antes de sua chegada a Olímpia, de muito tempo, e apenas lhe foi uma “escora”, uma “tábua de salvação” temporária.

O problema é que, até agora, quando não tem uma manchete e um texto raivoso contra o ex-prefeito, Cunha também não tem uma manchete e um texto consistente de seu governo, a detalhar alguma medida de cunho próprio.

Tudo vem dos outros. Tudo vem “de fora para dentro”. Tudo vem da gestão passada. Assim fica difícil de emplacar o governo. Que, aliás, politicamente começa também a dar sinais de isolamento. Em suma: se não fosse o Olímpia FC…

 

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