Blog do Orlando Costa

Verba volant, scripta manent – ANO XVI

Categoria: 53º Festival do Folclore

O FESTIVAL DO FOLCLORE E A HISTÓRICA NEGLIGÊNCIA COM SEU POTENCIAL

Doutor Welson Tremura fala ao público em simpósio desprezado pelos organizadores do Fefol

É melhor que ainda não se deixem assoberbar os organizadores do 53º Festival do Folclore de Olímpia.

Pois este é o grande inimigo das pessoas e coisas feitas por elas, no que diz respeito à nossa festa maior. Por ora, todo trabalho feito pela Comissão Organizadora e a Secretaria de Cultura, pode ser classificado, por conta das circunstâncias, como uma espécie de “ato de contrição”, embora não sejam exatamente os “pecadores”.

Dito isso, espera-se que, para o ano que vem, ou para edições mais adiantes até – uma  vez que a pouca atenção dispensada a evento tão importante em nível de Brasil vem de muito anos – haja uma volta à profundidade que o Festival anseia, conscientes de que o Fefol não deve ser só danças no palco. Aliás, mestre José Sant’anna quem dizia sempre, que as apresentações no palco eram o apogeu dos dias de Festival.

Doutora Tatiane fala ao público no mesmo Simpósio, suscitando depois profundo debate

E assim deve ser encarado se quisermos despertar novamente o interesse de pesquisadores, estudiosos, ou mesmo de curiosos em busca de informação e conhecimento. E só as danças não suprem esta característica.

‘MARATONA DE QUEM CONHECE MAIS’
Já não é de hoje que a grande preocupação no entorno da festa tem sido quantos grupos foram contratados, que grupos foram contratados, que grupo nunca veio, que grupo virá de novo, quantos folclóricos, quantos parafolclóricos, assemelhando-se a uma “maratona de quem conhece mais e melhores grupos”.

Certo que a seleção criteriosa de participantes é importante, mas não deve ser a única e principal preocupação, como se tem notado. E isso não é de agora. Teve anos ainda piores, onde as atrações cênicas mais se aproximavam do teatro musicado do que da representação folclórica necessária e sempre priorizada por Sant’anna quando da escolha dos parafolclóricos.

Este ano, a propósito da reintegração de um elemento-chave no âmbito das contratações, parece que houve uma ligeira guinada à busca da qualidade aliada à plasticidade de cena. Melhor que a qualidade tenha sido em maior grau.

Houve também um nível de respeito mais elevado em relação aos grupos folclóricos -embora, claro, manifestações individuais ou de grupos eivadas de preconceito e discriminação tenha-se presenciado em diferentes momentos.

SÍMBOLOS DA PERENIDADE
Então, o perigo que se impõe à nossa festa, é o da superficialidade, é o da ideia de que palanque basta e as programações constantes de todos os anos idem como símbolos de sua perenidade. Mas, que tal a preocupação com o aprofundamento disso tudo?

Nós temos tido a oportunidade de acompanhar uma programação que ainda não faz parte oficialmente da oficial do Folclore e que, a nosso ver, tem sido um desperdício de informação e transmissão de conhecimento: os simpósios étnicomusicais que há pelo menos três anos vêm sendo realizados por esforço de um olimpiense amante à toda prova de nosso Festival.

Por que não incorporar estes encontros ao Fefol, agregando a ele público, por exemplo professores da rede pública municipal e estadual, que depois poderiam usar em sala de aula com seus alunos, além de apenas lhes ensinar a dança, também lhes ensinando conceitos, formas, origens, e tudo o mais que permeia o tema?

PARA QUE O FEFOL FOI CRIADO?
E não só este tipo de simpósio. Há outras tantas ideias e assuntos que se encaixariam no dia-a-dia do nosso Fefol, fazendo com que as atividades, para muito além dos brinquedos tradicionais e infantis, sejam todos os dias, o dia todo. Dias de irradiação de conhecimentos e cultura, que afinal é para isso que o Fefol foi criado. E repensá-lo neste aspecto seria fundamental.

Personagem de um dos grupos de Moçambique mais constante no Festival de Olímpia

Vai dar mais trabalho, não restam dúvidas. Mas com certeza nosso evento ganhará, e muito, em prestígio, respeito e importância junto à Academia, imprensa -falo daquela imprensa que trata o tema com profundidade, nãos as inserções televisivas, não raro pagas e festivas.

Traria de volta aquele público que hoje abandonou nosso Festival: os pesquisadores acadêmicos ou não, os curiosos em busca de informação e cultura, instituições, entidades nacionais e internacionais de estudos do Brasil.

SALÃO DE EVENTOS
Também aí surge uma outra ideia, já que o prefeito Fernando Cunha falou em cobrir a arena do Recinto para “o povo não sentir frio”.

Considerando que o alcaide é engenheiro e deve saber muito bem em que conceito se insere a estrutura arquitetônica da arena, sugeriríamos que, ao invés disso, fosse aproveitada uma das barracas, com as devidas reestruturações, e transformada em um salão de convenções, simpósios, debates, onde todos os eventos extra-palco pudessem sem realizados, com conforto e segurança.

Claro, isso se houver a intenção de sairmos da mesmice a que o Fefol está mergulhado, de modo geral, e passarmos a tratá-lo, de novo, como um evento de cunho cultural, não apenas de espetáculos de dança, haja vista a pouca identidade da maioria dos grupos que para cá são chamados,  com o fato folclórico, propriamente dito.

Hoje percebe-se um distanciamento maior, uma teatralização maior (no que o teatro tem de livre representação), um colorido às vezes absurdo, exagerado, não contando os elementos novos incorporados, sabendo-se que para alguns deles, com certeza, Sant’anna faria muxoxos e “rabo-de-olho” para quem estivesse do seu lado. Ele não admitia heresias. Grupos deixaram de ser chamados ou vieram apenas uma vez e não mais por conta disso.

DEDICAÇÃO MAIOR DO SITE OFICIAL
Outro aspecto a ser abordado, e este é muito grave. Não começou agora, não era nem nunca foi a praxe, mas para que nosso Festival consiga repercussão no meio acadêmico, dos pesquisadores, estudiosos, etc., assim até facilitando as negociações em busca de verba junto às esferas estadual e federal, é preciso que haja uma dedicação mais extremada com o site do Festival, que nos anos todos apenas tem servido para acomodar os releases sobre o evento.

Os Parafolclóricos, quando próximos do Folclórico, acrescentam sentido ao evento

Por exemplo, tivemos aqui, na sexta-feira, o simpósio já citado acima, no qual um dos palestrantes era nada mais, nada menos, que o olimpiense Welson Alves Tremura, doutor em musicologia-etnomusicologia nos EUA pela “Florida State University” (FSU), entre outras atribuições, que falou um pouco -e esse pouco valeu ouro, sobre Folclore, música, tradição e sua relação, enquanto brasileiro, com as muitas visões do estrangeiro sobre sua terra natal e suas manifestações culturais.

Também Tatiane Pereira de Souza, olimpiense neta de José Ferreira, capitão do Terno de Congadas Chapéu de Fitas, grupo que inspirou-a a iniciar pesquisas sobre africanidade e suas culturas, além de outros temas de caráter antropológico, agora cursando pós-doutorado na Unesp, e outras “feras” com portfólio acadêmico de fazer inveja a qualquer um.

E sabem para quantas pessoas falaram? Se muito, 15 abnegados olimpienses e integrantes de grupos. Ninguém da Comissão, ninguém da organização da festa, ninguém para colher ali rico material ilustrativo da essência do nosso festival, a fim de abastecer o site do Folclore com entrevistas, fotos, impressões de especialistas, por exemplo, material que repercute no mundo acadêmico e de pesquisas, e que precisa ser alcançado, para o bem de nosso Festival.

A organização e realização de tudo isso, às vezes dando “murro em ponta de faca”, “comendo o pão que o diabo amassou”, foi de outro olimpiense, Estevão Amaro dos Reis, músico com doutorado em Etnomusicologia na Unicamp. É preciso pegar rápido, com as duas mãos, este trabalho, incorpora-lo à programação oficial e a cada ano aprimorar mais, a fim de despertar novamente o interesse acadêmico, histórico e cultural da nossa festa.

CORREÇÕES À VISTA?
Não se faz aqui análises fáticas sobre a edição deste ano do Fefol. Melhor fazer esta “cobrança” por profundidade maior, já que é quase consenso ter tido esta edição resultados positivos no que diz respeito ao seu aspecto de festa, propriamente dito, embora os senões que certamente serão corrigidos para o ano que vem.

No aspecto estudos, discussões, debates, troca de conhecimentos e culturas, transmissão do ideário folclórico, porém, ficou a desejar. Não é culpa dos organizadores de agora. Esta situação vem num crescendo que, espera-se, agora tenha um fim. A considerar o esmero com que foi tratado o lado festa do Festival, é possível vislumbrar melhoras consideráveis no lado cultural.

Aproveitando que, parece, tem-se agora um prefeito que gosta do Festival. O último a demonstrar interesse e amor por ele já data de mais de 30 anos e nem entre nós está mais. Portanto, o 53º Fefol acendeu as luzes de todas as boas expectativas possíveis. Espera-se que não seja “fogo de palha” de principiantes.

DE VOLTA AO FRACASSO: FEFOL TERÁ DESFILE NA MENINA-MOÇA

Enquanto isso, é incerta a reconstrução do Curral na Vila Brasil, bem como o Galpão Crioulo, Gaúcho, ambos desmontados sob o argumento de que podiam desabar

A secretária municipal de Cultura, Esporte e Lazer, Tina Riscali, anuncia que irá adotar o receituário abandonado há 10 anos atrás, de fazer o desfile de encerramento do Festival do Folclore, na Avenida Menina-Moça, que nos seis anos em que lá foi realizado, caracterizou-se como um fracasso em termos de público e infraestrutura. Este ano, no dia 13 de agosto, os grupos irão desfilar a partir das 9 horas da manhã. Trata-se, naturalmente, de mais num “ponto fora da curva” do Festival, que vem se juntar à descaracterização da “Vila Brasil”, com a derrubada do Galpão Crioulo e do Curral.

O fim do desfile de encerramento do Fefol na Avenida Menina-Moça foi anunciado como a novidade do 43º Festival do Folclore, realizado em agosto de 2007. Naquele ano a Apoteose da festa voltava à Avenida Aurora Forti Neves, a partir das 8 horas da manhã de domingo, ao contrário do local anterior, onde era realizado sempre à tarde, a partir das 15 horas.

Na ocasião, os organizadores da festa informaram que a medida havia sido tomada como resultado de uma pesquisa feita junto à população e aos grupos participantes, que disseram preferir a Aurora Forti Neves. A intenção era também a de atrair um público maior e, principalmente, atender reivindicação dos grupos que pediam um tempo maior para se apresentarem, e em horário quando o sol e o calor não atrapalhassem tanto. Ou seja, tudo isso está sendo desconsiderado agora pela secretária.

PROGRAMAÇÃO

A organização do evento, este ano, concluiu a programação com um mês de antecedência

Enquanto isso, a Comissão Organizadora do 53º Festival do Folclore divulgou ontem, quinta-feira, 6 de julho, a programação completa do evento, garantindo que em sua 53ª edição o Fefol terá a participação de 51 grupos, de 13 estados brasileiros.

A relação das festividades inclui a programação do Mini-festival, Gincana, Peregrinação e apresentação nos dois palcos. Nesta edição, além do palco na arena, haverá outro, próximo à entrada principal do Recinto, denominado “Iseh Bueno de Camargo”. Uma homenagem à folclorista e professora da cidade de Pirangi, que trabalhou por mais de 20 anos e colaborou com o Festival de Olímpia. Iseh faleceu em janeiro deste ano.

OS GRUPOS
O Festival terá a participação de 51 grupos folclóricos e parafolclóricos de 13 estados brasileiros, sendo 24 de outros estados, oito do Estado de São Paulo e 19 de Olímpia. Todas as regiões do Brasil estarão presentes no evento que será realizado de 5 a 13 de agosto.

Do Rio Grande do Sul virão dois grupos inéditos – o Centro de Pesquisa e Folclore (CPF) Piá do Sul, de Santa Maria, e o Grupo de Arte e Tradição Estampa Galdéria, de Xangri-lá. O Paraná será representado pelo Grupo Parafolclórico Pôr do Sol, de Quinta do Sol.

Poucos dos grupos contratados são de folclore autêntico; maioria deles virá para o desfile somente

Do Estado de São Paulo estão confirmados grupos de oito cidades. Esses, em sua maioria, não vêm para ficar a semana toda. Chegam no segundo sábado da festa e retornam após o desfile

do domingo. São os grupos: Associação Folclórica Reisado Sergipano e Bumba Meu Boi, de Guarujá; Grupo de Fandango de Tamanco Cuitelo, de Capão Bonito; União Folclorista São Benedito do Belém, de Taubaté; Congada Terno de Sainha Irmãos Paiva, de Santo Antonio da Alegria; Grupo Moçambique de São Benedito Azul e Branco, de Guaratinguetá; Grupo Samba Lenço, de Mauá; Congada Três Colinas, de Franca; e Grupo Folclórico e Religioso Moçambique de São Benedito, de Lorena.

Há grupos que, embora não sejam folclóricos, fazem o chamado aproveitamento do fato (como o Aruanda, retratado acima); outros apenas o espetacularizam

Da Estância Turística de Olímpia, três parafoclóricos e 16 folclóricos, incluindo as companhias de Folia de Reis, estarão no palco do Fefol: Godap (Grupo Olimpiense de Danças Parafolcóricas), Frutos da Terra e Associação Cultural Anástasis; Grupo Folclórico de Danças Afro Brasileira e Capoeira, Cia de Reis Lapinha de Belém, Cia de Reis Os Filhos de Maria, Cia de Reis Magos do Oriente, Cia de Reis Fernandes, Os Catireiros de Olímpia – Grupo de Nossa Senhora, Terno de Moçambique de São Benedito, Grupo Dança de São Gonçalo, Cia de Santos Reis Os Visitantes de Belém, Cia de Reis Caminho de Belém, Cia de Reis Os Viajantes de Belém, Terno de Congada Chapéu de Fitas, Guarda de Moçambique Pé de Coroa Nossa Senhora do Rosário, Cia de Reis Estrela da Guia, Cia de Reis Mensageiros da Paz e Cia de Reis Estrela Guia do Oriente.

Ainda da região Sudeste, o Fefol terá quatro grupos de Minas Gerais – Terno de Moçambique Diamante, de São Sebastião do Paraíso; Grupo Folclórico Aruanda, de Belo Horizonte; FITAS – Grupo de Tradições Folclóricas, de Montes Claros, e Grêmio Cultural e Social Arraiá de São Matheus, de Belo Horizonte. E um do Espírito Santo – Reis de Boi Mestre Nilo Barbosa, de Conceição da Barra.

Do Centro-Oeste do País, Goiás será representado por duas agremiações, Grupo Folclórico Brasil Central, de Anápolis, e Catupé Cacunda Nossa Senhora das Mercês, de Catalão.

O Nordeste terá grande participação no Festival de Olímpia. Do Ceará, da capital Fortaleza, virão o Grupo Tradição Folclóricas Raízes Nordestina, a Associação Cultural Maracatu Az de Ouro e o Grupo Parafolclórico Terra da Luz. A Paraíba também marcará presença com o inédito Balé Folclórico SISAIS, de Pocinhos, e os já conhecidos do público, Reisado Zé de Moura, de Poço de José de Moura, e Tradições Populares Acauã da Serra, de Campina Grande. Da Paraíba para o Pernambuco, presença confirmada do inédito Grupo de Expressão Popular Flor e Barro, de Caruaru.

A cultura potiguar será destaque em Olímpia também, com mais uma participação inédita, desta vez da Orquestra Sanfônica Trupé do Sertão, de Major Sales, e Caboclos de Rei de Congo do Mestre Bebé, da mesma cidade, que volta a Olímpia pela terceira vez.

Do Estado do Maranhão outra estreia no Fefol – o Bumba Meu Boi Brilho da Ilha. E fechando a região Nordeste o Grupo Flor da Serra, de Chã-Preta, do Estado de Alagoas.

Do Norte, destaque para o Estado do Pará, que terá três agremiações: o Grupo Parafoclórico Frutos do Pará, de Belém; a Cia de Dança Folclórica Trilhas da Amazônia, também de Belém, e o Grupo de Tradições Culturais Xuatê de Carajás, da cidade de Parauapebas.

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