Ainda agora não sei se alcançou uma larga, estreita, ou diminuta faixa de quem leu o texto publicado neste espaço no dia 2 de dezembro de 2011, tratando da famigerada especulação imobiliária que tomou conta da cidade. Mas, uma certeza salta aos olhos: o frenesi continua, e ele é cada vez mais excitante, dadas as facilitações para a ação dos envolvidos.

À época discutia-se na cidade a proposta de um Plano Diretor, por fim aprovado na Casa de Leis, hoje transformado na Lei Complementar 106, de 16 de dezembro de 2011. O Plano Diretor é aquele documento que direciona as questões ligadas ao uso e ocupação do solo, a demarcação e distribuição dos espaços urbanos. Estrutura qualquer projeto de futuro para nossa cidade, principalmente para os habitantes de amanhã.

Embora a impressão que deixou o documento – que foi aprovado a toque-de-caixa pela bancada situacionista na Câmara, sem que a maioria dos senhores edis o tivesse lido, afinal tratava-se de um ‘catatau’ de 288 páginas -, é a de ser um Plano Diretor de conveniência, que abarque tudo o que já estava delineado em termos de projetos de loteamento, bem como os espaços possíveis para se implantar outros ainda, como se está vendo agora.

Uma correria, os muitos loteamentos e conjuntos habitacionais simultâneos. Até sendo negociados de forma contrária às leis e normas que regem a matéria, haja vista as vendas feitas sem que antes os locais tenham a necessária infra-estrutura, como água, luz, asfalto, guias e sarjetas e, principalmente, sistema de escoamento de esgoto.

Fica, também a impressão de que o Plano Diretor veio apenas corroborar o expansionismo desmedido patrocinado pelo Poder Público, à guisa de estar proporcionando à cidade, um momento único de desenvolvimento. Nenhuma cidade que conhecemos cresceu assim. Nenhuma cidade de que temos notícia se expandiu assim, com essa voracidade. Porque nenhum prefeito, quero crer, teve comportamento assim tão temerário, em questão tão delicada, que pode nos legar um futuro de constantes aborrecimentos, como este de Olímpia.

Fala-se em desenvolvimento. Mas desde quando expandir área é desenvolver alguma coisa? Qual o significado exato de desenvolvimento? Segundo o Aurélio, trata-se de um substantivo masculino que pode ser assim descrito: ”Ação ou efeito de desenvolver; crescimento.” Na Matemática é a “efetuação de um cálculo”. Significa também “Progresso”. A Aurélio ainda reza que ele deve ser auto-sustentado e “um modelo de crescimento socioeconômico que não agride o equilíbrio ecológico”.

Não procurei outras definições, porque estas são bastantes. Uma rápida leitura do que mostra o tradicional “pai dos burros” e outra, ainda que mentalmente, no que está se fazendo na cidade, nos dá a exata dimensão da situação. Notem que a primeira definição diz respeito a “ação ou efeito de desenvolver, crescimento”. Para o Poder Público de turno, estes efeitos estariam sendo plenamente atendidos com implantações e vendas indiscriminadas de áreas para moradias na cidade. Mas, está havendo um cálculo do impacto social disso, num futuro próximo?

Onde se pode buscar o “progresso” nesta sui-generis “corrida do ouro” olimpiense? Já se tem em mãos qual será o grau de agressão ao meio ambiente? Não creio. Até agora ninguém veio a público dizer porque esta ou aquela região é melhor para se implantar um bom número de casas.

Nem porque não se busca a expansão de uma região, primeiro, dotando-a de toda infra-estrutura necessária, como sistema de transporte público, vias públicas adequadas, escolas, equipamentos para atendimento em saúde, redes elétrica, de água e esgoto, e depois de tudo isso bem assentado se parte para outra região. Isso se chama desenvolvimento/ crescimento ordenado e socioeconomicamente planejado.

Mas o que se está vendo na cidade é um pula-pra-lá-pula-pra-cá perigoso. Que atende somente aos interesses econômicos imediatos de uns poucos, em detrimento da grande maioria. Mas governar é proporcionar o bem estar para o coletivo, e não para o privado, o indivíduo, como parece ser o caso.

Esse açodamento que sem dúvidas está enchendo bolsos, pode ser amanhã a grande tragédia urbana daqueles que terão por imposição de seu próprio cotidiano, que conviver com a “herança maldita” do não-planejamento de futuro e portanto perene, e herdar, por conseguinte, o “espólio” da ganância. Mas, aqueles já terão lavado as mãos.

Este texto, em quase sua totalidade, está sendo reproduzido do anterior, de 2011, mas notem o quanto continua atual e preciso. Porque de lá para cá o expansionismo desmedido só fez crescer, a “corrida do ouro” imobiliário ganhou ainda mais força, e a cidade “velha” ficou “ilhada” pelas novas investidas, em cuja maciça e hábil propaganda governista tratariam-se de um momento único, “mágico”, pelo qual a cidade estaria passando.

Vejam bem, não há aqui nenhuma crítica aos futuros investimentos programados para a cidade, exemplo do empreendimento a ser implantado num prazo de dois anos, dotando a cidade de um “novo” Thermas dos Laranajais, este sim, promissor, indicador de futuro, pois gerará empregos à farta, e trará para a cidade um público turista duas vezes o que recebemos hoje.

É gente gerando divisas, consumindo, auxiliando em que a cidade possa proporcionar bem estar a seus habitantes. O inverso disso é a especulação desmedida, gerando o perigo do caos futuro, sem a garantia do efetivo desenvolvimento – seguro, racional, planejado.

Escrevo estas mal-traçadas linhas correndo sério risco de ser incompreendido e até, eventualmente, taxado de anti-olimpiense. Mas, escrevo-as, com certeza, no simples intuito de fazer um alerta, se não para as autoridades – que uma vez decididas a manter e a sustentar tal frenesi, podem até “patrocinar” o achincalhe -, pelo menos para os cidadãos que ora perdem tempo com esta leitura terem um ponto de partida para suas reflexões sobre a cidade do futuro que anseiam e esperam.

Até.