Amigos do blog, hoje, do nada, me ocorreu a seguinte questão: quem foi que inventou essa coisa de que um novo governo, quando assume o cargo, seja em que nível for, precisa de 100 dias de “carência”? Para que serviriam esses 100 dias? A máquina administrastiva também pára, nestes três meses, mais uma semana e três dias?
Então comecei a desconfiar que isso é coisa do Brasil. Porque busquei fundo nas minhas lembranças e não vi ou ouvi ninguém lá fora falar em 100 primeiros dias de governo, seja em que nível for. Aliás, ao contrário, vi a maior e mais democrática nação do mundo, os Estados Unidos, não dando a maior bola pra isso.
Se não, o presidente Barack Obana precisava já no dia 21 de janeiro, manhã seguinte à sua posse, assinar tantos e tantos documentos trazendo decisões na tentativa de resolver o mais premente dos problemas que assolavam – hoje já assola menos – os americanos, qual seja, uma das maiores crises financeiras pela qual aquele país já passou?
Não podiam os americanos se conformarem em ter que esperar 100 dias, como acontece no Brasil? “Áh, vamos aguardar para ver o que Obama vai fazer em três meses, uma semana mais três dias contra a crise!”, podiam dizer os americanos. E alguém disse isso? A imprensa norte-americana disse isso?
Portanto, usando deste forte e definitivo exemplo é que constatei: é uma balela, uma bobagem sem tamanho esta coisa dos “100 primeiros dias de Governo”. Coisa de brasileiro, de acomodados. Até porque a máquina administrativa continua a rodar suas engrenagens, os problemas – prementes ou não – não deixam de acontecer por 100 dias, esperando o alcaide, por exemplo, se “aclimatar” no poder.
É absurdo. E vemos isso com frequência neste país, até mesmo quando se trata do poder maior, a presidência, ou o poder “médio”, a governança dos estados. Menos quando a famigerada reeleição mantem no cargo o mesmo mandatário.
Agora, pergunto: se a máquina anda nos 100 dias do reeleito, porque pararia nos 100 dias do novo eleito? O lixo pode esperar 100 dias? O atendimento médico, o fornecimento de remédios, os exames complexos podem esperar 100 dias? A seleção de professores, matrículas nas escolas, solução de questões físicas na rede, podem esperam 100 dias? E assim por diante, podia aqui desfiar um rosário interminável.
Mas, fecho com uma questão que coloco a vocês, amigos do blog: por que não esperar também 100 dias para acomodar os amigos nos cargos mais bem remunerados do poder público – aqueles em comissão? Por que não esperar 100 dias antes de aumentar impostos ou taxas? Por que não esperar 100 dias para fazer aflorar desconfianças e descontentamentos? E assim por diante, aqui também haveria um rosário interminável.
Mas, vejo como suficientes os argumentos apresentados. Mas, fica em aberto, caso alguém tenha opinião contrária e possa nos convencer que sim, é preciso esperar 100 dias, manifeste-se. Afinal, este espaço existe também para isso. Para o diálogo, o debate, para jogar luz nas sombras.
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