Não restam dúvidas de que o assunto político destes primeiros passos com vistas às eleições de 7 de outubro próximo foi o “imbróglio” envolvendo a candidatura da advogada e ex-provedora da Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, Helena de Souza Pereira, e seu vice, frei fransciscano Flaerdi Valvasori, ambos do PMN. Muito diz-que-diz, vai-e-volta, sai-não-sai até que por fim veio a palavra final do frei: não sai. Não é mais o candidato a vice de Helena. Diz que foram muitas e bem fortes as pressões para desistir. “Até de Roma” veio um ultimatum. E o frei decidiu reconsiderar sua decisão.
Não saiu “atirando”, como é comum neste tipo de situação. Foi polido, educado, buscou cada palavra para se justificar. No fim, diz, prevaleceu a sua vocação, aquela a qual havia escolhiodo para a vida, embora a políticxa também fosse o seu caudal. Só uma vez usou de ironia: quando se referiu à rapidez com que um telegrama chegou a Roma – “Não à Roma, Vaticano, mas à Roma, nossa sede central, a sede dos Frades”, lembra -, antes mesmo de chegar até ele aqui mesmo no Brasil.
Diferente foi a reação da candidata a prefeito, Helena Pereira, que falou em “forças ocultas” por trás das pressões insuportáveis sofridas pelo frei. Na cidade, as opiniões se dividiram quanto a isso, alguns até trazendo à baila o caso dos panfletos apócrifos contra Celso Maziteli e Nilton Roberto Martinez nas eleições passadas.
Ela mesma deu o mote: “Eu não estou preocupada, não temo panfletos, não temo pressão, nen dossiês, entendeu? Eu não temo estes tipos de coisas. Aliás, isso é uma prática, eu já até presenciei este filme, já vivenciei isto, então não tenho este medo. Eu estou tranqüila”, declarou ao final da entrevista que você pode ler os principais trechos, abaixo:
“Estamos reunidos aqui hoje, frei Flaerdi e nosso querido amigo Renato Bitencourt ‘Marron’ para prestar alguns esclarecimentos. É com muita tristeza e muita angústia, com coração dilacerado que eu tenho que reunir vocês aqui hoje para gente dizer que infelizmente, diante de grandes pressões que viemos sofrendo nestes tempos, diante de ‘forças ocultas’, novamente eu me sinto assim como que, de novo, como se um rolo compressor estivesse passando sobre mim. Mas eu continuo firme e quero dizer que é uma tristeza muito grande por que nós temos que substituir um nome de grande importância que iria contribuir enormemente para uma mudança total no processo eleitoral de Olímpia.
Mas, felizmente o frei continua conosco, na nossa campanha, estará conosco no nosso governo, com toda certeza, e nós estamos aqui com o ‘Marrom’, com a alegria de ter sido indicado pelo Frei Flaerdi e que, para minha alegria, eu percebo hoje que é uma liderança que desponta, e tenho certeza que junto conosco ele fará um governo ligado e participativo para as pessoas menos favorecidas.
Para aqueles que estão aí preocupados, eu não estou preocupada, não temo panfletos, não temo pressão, nem dossiês, entenderam? Eu não temo estes tipos de coisas. Aliás, isso é uma prática, eu já até presenciei este filme , já vivenciei isto, então não tenho este medo, eu estou tranqüila eu estou candidata até o dia sete de outubro. Porque no dia oito de outubro eu já serei a prefeita de Olímpia.
Quero deixar muito bem claro para a população, eu não vou desistir, nada vai me tirar este meu desejo de fazer e lutar por uma Olímpia melhor, mais digna e mais justa. E nada vai me deter.”
ABAIXO, AS RESPOSTAS DE FREI FLAERDI:
Frisando que enquanto eleitor, enquanto cidadão estará empenhado na campanha e colaborando para que a candidatura de Helena “seja vitoriosa”, implantando na cidade uma administração “séria, justa e transparente, frei Flaerdi respondeu às seguintes questões:
– Frei, até onde o senhor acredita que essas pressões vindas da Igreja tiveram algum tipo de ingerência política?
Frei: Eu nunca falo a partir de suposição, embora eu já tenha ouvido isso. Mas são boatos, o boato pode ter a sua participação na verdade ou não. Mas, uma coisa é certa: estas pressões estavam muito fortes. E o meu desejo de participar na vida política e outro lado, que é a minha identidade de religioso, foram colocados cheque, porque nós temos conosco o voto de obediência. Então, quando nosso superior diz ‘reconsidere’ eu, por principio de vocação, tenho que dizer ‘reconsidero’. Eu tenho meu principio político, este eu nunca vou renunciar, mas quando existe este pedido, eu não posso simplesmente dizer ‘não’, pois estaria negando aquilo que é a minha opção principal. Mas eu não sei responder esta pergunta, não. Existem forças por de trás. Eu não posso dizer se nesta situação atual houve, boatos existem, mas eu não posso afirmar nada a este respeito.
– O caso chegou mesmo até Roma, como disseram?
Frei: Sim, sim. Não Roma Vaticano, mas a nossa sede central em Roma, a sede dos Frades. Tanto é que o meu superior geral, aquele que é responsável pelos frades do mundo todo, quem me fez o pedido.
– A questão de chegar a Roma com esta rapidez o senhor acredita de que forma isso pode ter acontecido?
Frei: Olha, pode parecer sarcasmo, mas os Correios merecem uma menção no ‘Guiness Book’, por que foi de fato algo muito rápido, questão de treze dias, aconteceu tudo isso.
– E não existe no Brasil nenhum padre ou frei envolvido com política, ou que seja administrador, ou vereador?
Frei: Olha, existem muitíssimos, e se for ver hoje na campanha atual, tantíssimos padres diáconos, diáconos leigos estão todos engajados, e é algo incrível por que não surge de um desejo de querer ser político, ser famoso. Estaríamos muito bem onde estamos, sentados. Mas, é o desejo de participar, de estar junto do povo. Já imaginou ter um padre celebrando na sua frente e você cobrando tudo aquilo que ele prometeu? Então, existe uma gama enorme de padres, diáconos, que vão estar aí, e que bom seria se pudessem contiuar. Se for ver a estória do Brasil, vão ver a participação dos religiosos em toda história política do Brasil. Sempre estiveram ali, participando, juntinho.
– Foram então, pressões específicas ao frei Flaerdi?
Frei: Não. Em várias parte do Brasil outros sofreram, foram chamados a retirar sua candidatura. Primeiro digo que exiete grande participação e lugares onde está indo adiante. E no meu caso não foi exclusivo porque existe o Código do chamado Direito Canônico. Eu, dentro deste código, estou como clérico, e a um clérico é proibido participar de um governo civil como cargo. E baseado nisso que de fato somos impedidos de ter esta participação.
– Mesmo sabendo disso o senhor aceitou ser o vice de Helena. O senhor acreditava de alguma maneira poder mudar isso, que em relação ao senhor fosse mais brando?
Frei: É possível ser mais brando diante desta opção. Mas reafirmo o que disse no início. Acredito no processo democrático e na participação de todos, em todo este processo de gestão de cidades, gestão de uma nação. Sabia que poderia sofrer sanções, mas não imaginava que fossem fortes, como foram. Mas acreditava que poderia dar testemunho como franciscano, servindo a população de uma forma que não fosse apenas a religiosa, mas sendo alguém que estava junto com o povo e daí eu seria religioso da mesma forma. Tinha consciência de que algo viria, mas não esperava que fosse tão forte assim. Mas sabia. Como opção. Sou religioso e mesmo atuando no governo atuaria como uma pessoa que crê.
– Como será sua atuação na campanha, o senhor poderá fazer visita, pedir votos, eventualmente participar de comícios?
Frei: Não estou proibido pelo Direito Canônino de participar.
– E o senhor vai ter este tipo de atuação durante a campanha?
Frei: Pretendo. Firmemente.
Até.
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