Parece que o grupo no poder já zarpou o barco eleitoral com vistas às eleições do ano que vem. Até agora ancorado no porto das veleidades, tal barco começa a deslizar pelas águas ainda serenas do pleito eleitoral que se avizinha. Mas, uma ligeira tacada da oposição – o anúncio tímido da pré-candidatura do peemedebista Magalhães, provocou, ao que parece, um “frisson” danado na turma que, logo de cara, deu uma demonstração de “força” cooptando três filiados do partido do vereador em questão.

Lembrando que a tal “debandada” teve momentos dramáticos ainda na noite de ontem, com a quase invasão de uma residência em bairro nobre, em busca de três importantes assinaturas. Dizem que truculência ali seria apenas um eufemismo. Quase virou caso de polícia. Na busca pelos inocentes úteis, o grupo encastelado no Palácio 9 de Julho lançou pois seu barco ao mar. É ele quem passará, de porto em porto, recolhendo incautos para encorpar sua tripulação.

Não dá para formar outra imagem a não ser esta semelhante à de uma Nau Catarineta, onde no final nem tudo pode acabar bem. Há muitas promessas envolvendo esta transação de pessoas. Compromissos idênticos sendo firmados, com pessoas não-idênticas. Exemplo clássico envolve o mais novo convertido ao genismo, Flavito Fioravante, e o tucano seduzido logo às primeiras horas da caminhada política do hoje prefeito Geninho (DEM), vice-prefeito Gustavo Pimenta.

Ambos “são” vice-prefeito do alcaide. Pelo menos por enquanto. Sim, porque Pimenta, pouco tempo atrás, insinuava-se e o grupo tucano também, ser o nome oposicionista à cadeira da 9 de Julho. A conversa começava a ganhar corpo, corria na cidade, até o dia em que a turma resolveu por um basta: chamou-se Pimenta para um tête-a-tête e dali saiu o vice como o próximo vice, com um “plus” a mais: seria, após dois anos, o próprio prefeito da cidade (a candidatura a deputado, lembram?).

Costura feita, compromisso amarrado, cada qual voltou ao seu quadrado. Mas, eis que passado outro tanto de tempo, surge no horizonte um vereador chamado Dirceu Bertoco. Habilidoso no trato político, conversa vai, conversa vem, conseguiu aproximar peemedebistas com demistas. E foi em um filiado peemedebista, que aos olhos do grupo situacionista tem peso suficiente para caminhar parelhado ao alcaide, que centraram fogo. Inebriado com a proposta, dizem alguns seus próximos, Flavito acabou cedendo.

Levou junto consigo outro filiado de mais tempo, Rubens Gianotto, e ainda mais outro, o advogado Paulo de Souza (coincidentemente ou não, dois candidatos não-eleitos a vereadores por duas vezes). Não que isso represente a derrocada do partido, porque são figuras até então apáticas dentro da sigla. Mas seria uma primeira “estocada” no adversário, a mostrar que este mar ainda pode ficar revolto. O problema é: quem vai sobrar lá no final?

Os tucanos apostam que é Flavito. Este, por sua vez, acredita piamente que será Pimenta. Um prefeito só pode ter um vice e, assim, assumir compromisso político idêntico com dois ao mesmo tempo é tremenda deslealdade. Pior ainda é ver que ambos – Flavito e Pimenta – acreditaram no compromisso. Nosso palpite é o de que Geninho vai “cozinhar” Pimenta e seu PSDB até onde for possível para impossíbilitar uma rearticulação do tucanato, depois vai “soltá-lo na ladeira”, como se diz.

Já os tucanos pensam o contrário. Nas rodas estariam comentando que o burgomestre vai levar Flavito em “banho-maria” até onde e quando puder para depois agraciá-lo com “uma secretaria qualquer”, deixando o caminho livre para Pimenta. E que Flavito seria apenas mais um membro da tripulação da Catarineta*, que ao final, se “engrossar”, pode até ser atirado aos tubarões, “andar pela prancha”, como se diz.

Seja como for, alguém vai sobrar. Resta saber quem vai ficar a ver navios.

*O Romance da Nau Catrineta (ou da Nau Catarineta) é um romance popular – uma composição poética ligada à tradição oral. Provavelmente foi inspirado pela tumultuada viagem do navio Santo Antônio, que transportou Jorge de Albuquerque Coelho (filho de Duarte Coelho Pereira, donatário da capitania hereditária de Pernambuco), desde o porto de Olinda, no Brasil, até o porto de Lisboa, em 1565.

O poema narra as desventuras dos tripulantes durante a longa travessia marítima – os mantimentos que esgotaram, a presença de tentação diabólica e afinal, a intervenção divina, que leva a nau a seu destino.

Até.