O governador candidato à reeleição, Rodrigo Garcia, e sua trupe, podem bater os pés e dizerem que não, mas a candidatura do tucano para permanecer no Bandeirantes deu uma estacionada. Uma inesperada e trágica estacionada. Não é segredo para ninguém que já se dava como certo Garcia atropelar Tarcísio de Freitas, o candidato bolsonarista que nem se lembrou do nome do colégio onde votará, mas isso não aconteceu.
Também não é segredo para ninguém que essa realidade gelou as espinhelas de tantos quantos já davam como certa a disputa, a partir daqui, de Garcia contra Haddad e sua aposta no antipetismo. Mas, embora ainda venha insistindo nesta tese e arrogantemente ignorando o bolsonarista, o governador tucano sabe em seu íntimo que, para chegar a Haddad precisará antes, transpor o aparato de arame farpado que é Tarcísio.
Acreditamos que todo mundo mais próximo do círculo da campanha de Garcia sofreu um baque. A semana foi de total frieza no tocante aos atos de campanha. E contra isso o tucano precisa lutar. Então vejam que Garcia tem uma primeira barreira a transpor, que é a da contaminação pelo desânimo, de sua trupe. E esta semana já deu para sentir uma campanha mais esvaziada.
Feito isso, deve partir então para a barreira de arame farpado que é Tarcísio em seu caminho, que aliás esta semana, não bastasse a surpresa ruim do Datafolha na quinta-feira, e até mesmo do Ipespe/TV Cultura ontem de manhãzinha, que manteve Garcia no mesmo lugar, ainda surge a figura de um prefeito dos arredores da capital com artilharia pesada contra a campanha tucana.
A saber: Acusado de ligação com o PCC, o prefeito de Embu das Artes, Ney Santos (Republicanos), usou suas redes sociais para ameaçar o governador Rodrigo Garcia. O prefeito falou em “revelar detalhes” do que o irmão do tucano, Marco Aurélio Garcia, teria feito, segundo ele, “a pedido” do chefe do Palácio dos Bandeirantes.
Em uma publicação em seu Instagram, Santos afirmou que era “parceiro” e mantinha “intenso contato” com Garcia no “palácio do governo e em outros lugares”. “Ou já se esqueceu?”, indagou. E prosseguiu: “Por que não olha para dentro de sua própria casa, como, por exemplo, para seu irmão Marco Aurélio Garcia, que deve muita explicação à polícia e ao povo paulista, ou o senhor quer que eu exponha detalhes do que ele fez ao seu pedido e ainda está fazendo nesse exato momento?”. Tirombaço.
Explica-se: O irmão do governador foi condenado por lavagem de dinheiro sob a acusação de integrar a Máfia do ISS. Denunciado pelo Ministério Público de São Paulo, o grupo de fiscais da Fazenda da Prefeitura de São Paulo foi denunciado por cobrar propinas de empreiteiras.
Mas, foi Rodrigo quem começou, ao colocar em sua propaganda eleitoral a imagem do prefeito como integrante do PCC parceiro de Tarcísio, numa cena em que o candidato carioca diz: “Estamos juntos”. Mexeu num vespeiro, porque isso pode lhe render desagradáveis “ferroadas” eleitorais. Tarcísio, por sua vez, se cacifou. E bem cacifado. Do tipo: “Vem que tem”.
Mas, enfim, a pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no início da noite de quinta-feira, dia 22, indica um cenário de estabilidade, com o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) na liderança, com 34% das intenções de voto ao governo de São Paulo, oscilando negativamente dois pontos percentuais. Empatados tecnicamente na segunda colocação, aparecem Tarcísio, com 23%, e o atual governador Garcia, com 19%.
O levantamento anterior, publicado na quinta-feira da semana passada, dia 15, já indicava Haddad à frente dos adversários, com 36%, e o mesmo cenário de empate técnico entre Freitas e Garcia, que tinham 22% e 19%, respectivamente.
Na última rodada da pesquisa, há uma semana, a briga por uma vaga no segundo turno se acirrara entre Rodrigo, que subira quatro pontos, e Tarcísio, que variara um ponto para cima na ocasião. Observem que os quatro pontos de Garcia se juntou ao longo da campanha até o dia 15. E no dia 22, estagnou. Já Tarcísio vem crescendo um pontinho outro pontinho em todos os levantamentos.
Quem tem acompanhado as postagens deste blog que trata da campanha estadual vai reconhecer que a linha traçada em todas elas está se consumando. Então, não foi por falta de aviso. Até o desenho da transferência de votos antecipamos aqui (‘Pega-pega’ entre Rodrigo e Tarcísio é a incógnita do 2º turno) e o Datafolha o repete agora.
Se não, vejamos: “No segundo turno, a pesquisa mostra um cenário mais apertado entre Haddad e Rodrigo (5 pontos) do que entre o petista e Tarcísio (11 pontos), o que tem estimulado a estratégia tucana de pregar o voto útil no governador contra o PT”, diz o Instituto.
“Haddad tem 46% contra 41% de Rodrigo (era 47% a 41%, uma diferença de 6 pontos, na última pesquisa, mas observem que Garcia não saiu do lugar). Entre Haddad e Tarcísio, o placar é de 49% a 38% a favor do petista (antes era de 54% a 36%, diferença de 18 pontos, mas observem a queda vertiginosa do petista e a subida em dois pontos do carioca; talvez o antipetismo apregoado por Garcia esteja rendendo mais para o outro que para si).
Se a segunda etapa ocorrer entre Haddad e Tarcísio, os eleitores de Rodrigo iriam para Tarcísio (45%) e Haddad (35%). Já se o segundo turno for entre Haddad e Rodrigo, os eleitores de Tarcísio declaram migrar para o tucano em sua maioria (67%) ante 11% para o petista (Vejam no post marcado acima esta mesma radiografia).
Até na espontânea Garcia amarga esquecimento. De acordo com a pesquisa, Haddad marca 21% (tinha 19%), Tarcísio 13% (era 12%) e Rodrigo mantém os 9%. Ou seja, uma campanha via TV e redes sociais ineficaz?
E agora vejam isso: Os eleitores de Haddad e Tarcísio são os mais convictos. São 67% de decididos para ambos, enquanto 32% do ex-prefeito podem mudar e 33% do ex-ministro podem mudar. Para Rodrigo, as marcas são de 59% de convictos, mas 41% podem mudar. O que neutraliza a intenção de segunda opção de voto nele, que é de 20%.
A entourage de Garcia não se manifestou nas redes sociais quanto ao Datafolha como vinha fazendo ao longo dos últimos levantamentos, e já se sabe porquê. Mas, atitude diferente teve quanto à pesquisa Ipespe/TV Cultura divulgada ontem de manhã, afirmando que “Rodrigo sobe 5 pontos e fica empatado em segundo lugar”. Aí a própria assessoria se incumbiu de distribuir o material.
Segue o texto afirmando que Rodrigo “registrou o maior crescimento entre os outros candidatos na pesquisa Ipespe/TV Cultura, que divulgou nova rodada de números nesta sexta-feira (23). O atual governador de São Paulo subiu 5 pontos, chegou a 21% e está em segundo lugar, tecnicamente empatado com Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 23%”.
Estes “5 pontos”, observem, foi angariado ao longo da campanha, a partir do dia 9 de setembro, não foi na última semana. Aliás, é bom que se diga, Garcia ficou no mesmo lugar apontado pelo Datafolha um dia antes.
Não teve como fugir dos 23 pontos de Tarcísio. Que aliás cresceu apenas dois pontos neste mesmo período, mas suficientes para jogar o governador paulista para a terceira colocação, numericamente falando.
E vejam outro dado preocupante: a situação de empate técnico entre ambos nos vários segmentos medidos pelo Ipespe, exceto apenas entre os jovens, a menor parcela do eleitorado. “Rodrigo tem desempenho melhor do que Tarcísio em alguns segmentos de voto, como a preferência entre as mulheres (20% a 17%), entre os jovens de 16 a 24 anos (20% a 11%), entre os eleitores acima de 60 anos (25% a 22%) e entre aqueles que recebem até dois salários-mínimos (18% a 14%)”.
Portanto, senhoras e senhores, é árdua a luta e íngreme a estrada a ser percorrida por Garcia nestes oito dias que faltam, contando hoje e não contando o dia do voto. A bem da verdade, não lhe falta muito em termos quantitativos. No caso dos 19%, Garcia teria garantidos 6,586 milhões de sufrágios.
No caso dos 21%, teria 7,280 milhões. Com 23%, Tarcísio detém 7,973 milhões. Então, no primeiro caso, Garcia precisa correr atrás de, no mínimo, mais 1,387 milhão de votos, enquanto no segundo caso, mais 700 mil. Em tese, certo, cálculo feito a grosso modo, somente a título de ilustração.
Bem observado, não é muita coisa para quem tem a máquina, a estrutura do estado e, segundo a campanha, “a maioria dos prefeitos dos paulistas”, além de 99,99% dos prefeitos da Região Metropolitana de São José do Rio Preto”, composta de 37 municípios e quase 700 mil votos. O problema é se esses 700 mil votos já estiverem incorporados à totalização atual de Garcia.
Advirá a debacle. Uma tragédia política sem precedentes. No nível pessoal, de grupo, partidário e de sigla, para o candidato majoritário e seu vice. Ambos estreantes e necessitados de emplacar seus nomes.
Perdendo, Garcia enterra o PSDB em São Paulo o que, por consequência, o enterrará também nacionalmente. Geninho Zuliani enterra seu estreante União Brasil, tornando-o uma sigla sem a menor representatividade no estado e, por consequência, também nacionalmente.
É muito peso nas costas de ambos que, mesmo calejados na peleja, podem vergar. Esta semana que entra veremos a quantas anda a capacidade de mobilização e convencimento da dupla. E na quinta-feira conferiremos no último Datafolha antes da votação. É só o que nos resta fazer.