Clamando por especiais desculpas por ter me ausentado deste espaço por um breve período, volto a ter com os senhores e senhoras. A razão do meu afastamento foi, claro, o advento do Festival do Folclore, que em sua 58ª edição, infelizmente nos mostrou um plano nada animador.

Foi possível ver então que há uma “cartilha” a ser rasgada e outra por ser elaborada, se pretendemos que a nossa festa, que já foi “maior”, volte a ser cenário de descobertas do conhecimento e da troca verdadeira de impressões, da valorização entre diferentes passadismos.

Estamos, perigosamente, mergulhando no mais do mesmo, no que pode ser facilitado, viabilizado tecnicamente e menos no que pode despertar emoções verdadeiras, despertar a curiosidade intelectual e daí o fascínio às almas mortais.

Que seja então, no mais tardar a partir da nossa 60ª edição, em 2024, a grande partida para algo renovado, revigorado, com nova força e destemor, em síntese, que saiamos do curso “natural” no qual nos enredamos, mas sem apelarmos para a facilidade da tal “modernização”, projeto execrável que já rascunham e escondem nos escaninhos aqui e ali, porque este conceito implica em “atualizar” aparências ou comportamentos, transformando completamente a cena histórico-folclórica buscada. Espero que tenham me entendido. Ou, melhor, espero que tenha me feito entender.

Mas, vamos ao tema da semana:

O ‘FRIO NA BARRIGA’ QUE PERPASSOU
GENINHO E A CAMPANHA
A semana começou na Estância com um tremendo solavanco político-eleitoral. Na tarde de terça-feira, caiu sobre as terras de Curupira a notícia de que a candidatura do deputado federal Geninho Zuliani, do União Brasil, a vice-governador na chapa com Rodrigo Garcia, do PSDB, que tenta a reeleição à cadeira principal do Palácio dos Bandeirantes, estava sob pedido de impugnação.

Surpresa geral, o próprio candidato, sua assessoria e apaniguados trataram logo de vir a público apaziguar as almas em desalento, garantindo, da parte do candidato, que tudo não passava de “mera formalidade”, “atos burocráticos” e que em poucas horas tudo estaria esclarecido.

Temia-se, claro, que isso pudesse vir a “contaminar” a candidatura Garcia, que já não anda bem das pernas (a saber se não teve alguma influência no Datafolha coletado na quarta e na quinta-feira). Dito e feito, na quinta-feira, final do dia, começa a correr a informação de que o procurador regional eleitoral auxiliar Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, havia emitido parecer no qual pedia que a impugnação apresentada por ele mesmo contra a candidatura de Zuliani, seja julgada improcedente.

O procurador citou a defesa apresentada por Geninho e apontou “erro material” na impugnação. O pedido ainda está por ser julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP), mas não há a menor nuvem de pressentimento ruim sobre o que decidirá a corte eleitoral. Bom, o resto da história todo mundo conhece e os motivos pelos quais idem. Pode-se creditar o fato a um excesso de zelo do magistrado? Acreditamos que sim.

Mas, o nó górdio da candidatura tucana de Garcia não está desfeito. Está em outro ponto. Como fazer para derrubar o candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas do segundo lugar, almejando aí um segundo turno presumivelmente com Fernando Haddad, do PT?

Pela lógica, o seu alvo tem que ser o Tarcísio, seu adversário mais próximo. Porque se tentar tirar Haddad de sua posição aparentemente consolidada, ignorando Tarcísio, vai perder tempo e, como consequência, a eleição.

A turma do governador diz estar apostando muito no horário eleitoral gratuito da TV, onde tudo muda, sempre. Sei não, mas vejo excesso de otimismo aí. Simplismo eleitoral. Garcia não terá nada mais a mostrar ao público televisivo, do que vem mostrando já nas redes sociais. E a repetir esse mote de campanha na TV só terá a repetição do mais do mesmo, porque a marquetagem anda muito insossa.

Por exemplo, essa de “paulista raiz” não cola, porque Haddad também é “paulista raiz”. Da mesma forma o petista nasceu no interior paulista e migrou para a capital. Portanto, presume-se que seu alvo seja Tarcísio, “carioca da gema”, como se diz. E que assim seja, mas percebem a ineficácia disso? Só fará lembrar, acreditamos, a situação análoga de Haddad.

Um segundo ponto é o mote “Nem direita, nem esquerda, é pra frente”, numa evidente postura de “candidato isentão”. E esperamos que seja evidente também para o núcleo da campanha, ou seja, que estejam fazendo isso de propósito, não por lapso, eis que ali está um grupo de notáveis marqueteiros.

O eleitor ficará na dúvida sobre a posição ideológica e política de Garcia? Uma certa parcela deles, sim. Porque é do entendimento político que todo candidato deve ter um lado, uma linha ideológica política, seja de extrema-direita, direita, centro-direita, extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda, trabalhista, socialista, comunista, para ficarmos nos formatos mais palatáveis. E Garcia o que é? Ele não diz. Ninguém sabe.

Com postura de não ser nada disso, apenas “para a frente”, Garcia se isola ideologicamente, num formato “caixa vazia”, não entusiasmando o eleitorado. Haja vista os resultados das recentes pesquisas (Datafolha, 11%, IPEC, 9%). Só que Tarcísio, na mesma ordem, teve 16% e 12%. Se crescimento houve e não fora apenas diferenças por metodologia, o governador cresceu de uma para outra, dois pontos, margem de erro. O bolsonarista teria crescido dois para fora da margem de erro.

Vão dizer “cresceram igual”. Nada disso. O carioca cresceu quatro pontos, dois seguros em termos de crescimento, dois dentro da margem de erro. E, vejam bem, dentro da margem de erro seria, então, 9% por 14%. O fato é que Garcia precisa, urgentemente, frear a subida do carioca. De que maneira? Seu “staff” deve estar com tudo definido e seguro para tanto.

Mas depositar todas as fichas no horário da TV acho bastante temerário. Até porque, como governador em exercício, ele vai apanhar bastante nos debates.

E o “paulista-raiz”, não cola, o “isentão” não empolga eleitores e, sejamos sinceros, exibir um Fusquinha de estimação é passadista demais. Sem contar que, como definiu matéria do jornal Diário da Região, de São José do Rio Preto, Geninho vice de Garcia forma um sanduíche de “pão com pão”.

A ver.