A pegunta que não quer calar é: vai mudar alguma coisa na relação da Câmara de Vereadores com o prefeito Fernando Augusto Cunha com a volta intempestiva dos dois edis que ocupavam secretarias? Há quem aposte que sim, há quem aposte que não.
Nos bastidores sabia-se que a relação entre o prefeito e seu secretário de Agricultura, Comércio e Indústria, Tarcísio Cândido de Aguiar, não era das melhores e, da lista de dispensáveis em curto tempo, ele ocupava o topo.
No tocante a Hélio Lisse Júnior, então secretário de Segurança, Trânsito e Mobilidade Urbana, Cunha o tinha em grande conta, e não esperava em momento algum que abandonasse o barco.
Até porque, a bem da verdade, se era para preservar o mandato da vereadora Alessandra Bueno, bastava que um deles saísse e ainda assim, na sexta-feira anterior à sessão de segunda, para garantir a legalidade da posse e do voto. E, no caso, então, Tarcísio Aguiar.
Este seria o elemento surpresa a definir contrariamente à vontade da Mesa da Câmara, sem a necessidade de tudo o que vimos, ouvimos, lemos e sentimos. Sem aquele barulho todo, infrutífero, no final das contas. Resultado de decisões passionais. Mas em política as decisões têm que ser lúcidas, frias, racionais e objetivas. Intempestividades produzem maus resultados. Como se viu.
Voltando ao tema, os bastidores contam que o prefeito ficou bastante contrariado com a decisão de Lisse. Secretário que havia sido escolhido a dedo por ele, por considerá-lo o mais preparado para administrar setores tão estratégicos, Segurança à frente. Sua saída, de certa forma, pegou o alcaide de surpresa.
Bom, agora o que se especula sobre a Câmara é se eles dois, mais Heliton de Souza, o Lorão, o novato Marcelo da Branca e até, pasmem, Edna Marques, formariam um quinteto oposicionista na Casa de Leis, o que seria uma tragédia incomensurável para as pretensões futuras do Executivo). Vamos “garimpar” motivos e razões.
As movimentações dos vereadores ex-secretários na primeira sessão ordinária da qual participaram, falam por si. Lisse manteve sua postura de explicar em detalhes sempre o conteúdo dos projetos do Executivo em votação, cumprindo a votação de um líder de Governo na Casa.
Aguiar, depois de muitos agradecimentos ao prefeito, focou suas críticas na figura do presidente, Zé Kokão, que de resto não terá vida fácil nos próximos seis meses. Da Branca, por sua vez, nem ousou tocar em assuntos não afetos à sua posse. Ou seja, o trio não teve críticas a fazer ao prefeito, em tudo isso que aconteceu. Muito pelo contrário.
Edna Marques, por sua vez, na verdade nada teve a ver com esse tudo acontecido. E sua posição de voto contrário à cassação de Bueno sempre foi individual e vem desde o princípio, ainda quando da votação da aceitação ou não da denúncia. Sem confrontar ninguém e até mesmo sob conhecimento e anuência do prefeito, ela manteve sua postura. Saiu grande do embate.
Portanto, quatro a menos no suposto quarteto oposicionista. Sobra Lorão que, não esconde de ninguém, não toma café na mesma mesa que o prefeito e seus secretários. Mas, uma só andorinha não faz verão. Mas, sem apoio da prefeitura, se escuda no apoio do deputado Geninho, que lhe tem dado algum respiro, atendendo a algumas demandas.
Ainda que o substituto de Bueno se meta a oposicionista, isso de nada representará, pois não encontrará respaldo na Casa, e então seriam duas andorinhas que, ainda assim, não fariam verão algum. Atentem para o fato de que Marcelo da Branca não é suplente, certo? É titular da cadeira. Teria plenas condições, sem o temor de uma ação do prefeito no sentido de sacá-lo do cargo, de postar-se como opositor.
Mas, ainda não se sabe qual será o nível de relacionamento dele com o prefeito, uma vez que, todos sabemos, a relação de ambos foi profundamente desgastada quando, não se sabe por qual razão, exatamente, Da Branca usou da Tribuna da Câmara, às vésperas das eleições de 2016 e só não chamou Fernando Cunha de “santo”, como se diz.
Ele, então, ensaiava integrar o grupo do então pré-candidato, que formava sua base de apoio, mas por conta disso, claro, foi isolado. Legislativamente, por assim dizer, Cunha não precisa dele. Teria votos para aprovar seus projetos em qualquer modalidade -dois terços ou maioria absoluta, sete e seis votos, respectivamente. E num improvável empate, teria o presidente a seu favor.
Portanto, Da Branca voltar às boas com o alcaide atenderia mais a seus interesses enquanto representante do povo que ao prefeito que tem uma maioria segura dentro da Casa. Será, então, uma odisseia homérica em busca de um gesto de conciliação, um ato de altruísmo que, dizem as más línguas, Cunha não tem por hábito praticar. Ainda mais sem as necessidades inerentes e, no caso unilateral, neste tipo de relação, se é que me entendem.
Já disse aqui, anteriormente, que Da Branca na Câmara atende muito mais aos interesses do 1º secretário Márcio Eiti Iquegami, que anseia vir a ocupar a cadeira central da Mesa Diretora e, para tanto, já tem garantido o voto do recém-chegado.
Daí o esforço sobre-humano de Iquegami pela cassação de Bueno, mesmo contrariando a orientação do deputado-líder do partido, Geninho Zuliani, que pretendia preserva-la na Casa.
Portanto, não nos iludamos: o futuro nos espreita com o mais do mesmo. Para o bem ou para o mal.
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