Não se sabe de onde o prefeito tirou tanto ódio contra estes trabalhadores. Porque uma coisa é o político falando. Outra é o homem. E ele falou como homem que odeia o funcionalismo.
Muitos viram o original, mas muitos mais viram a versão crítica do vídeo gravado pelo prefeito Fernando Cunha (Sem partido) tecendo loas e elogios, até reconhecendo -pasmem!- que sem o funcionário público ele não poderia levar adiante seu governo.
Um despropósito, por certo, para alguém que, pouco mais de um ano atrás, disse “cousas e lousas” sobre a categoria, que segundo ele é formada por “lambões”, e para a qual dar aumento de salário “é jogar dinheiro fora”.
Ninguém, em sã consciência, poderia imaginar que o prefeito tivesse essa coragem, esse ânimo de dizer aos funcionários municipais que eles não são nada daquilo que ele disse que eram, o que, naturalmente, foi encarado, nas versões críticas, como um gesto eleitoreiro e desavergonhado.
Não restam dúvidas que Cunha sente na pele, hoje, a “queimadura” de suas próprias palavras. Rejeitado por pelo menos 90% da categoria, ele tem, além do não-voto desse contingente (só a total falta de amor próprio e dignidade do funcionário pode provocar um resultado diferente), ele deve se preocupar com o anti-voto, esse sim, muito mais danoso às suas pretensões.
São hoje cerca de 1,5 mil funcionários ativos e aposentados, para arredondarmos. 90% disso seriam 1,35 mil pessoas dispostas a não votar no prefeito. Multiplicando aqui por dois, para facilitar: 2,7 mil não-votantes (claro que numa família se pode contar até quatro pessoas -façam as contas).
Imaginem agora estes 2,7 mil funcionários pedindo e convencendo cada um, pelo menos duas outras pessoas a não votarem no alcaide: 5,4 mil não escolheriam Cunha, pois. Multipliquem isso por mais dois (da família, que não votariam em solidariedade): 10,8 mil votos tomando outras direções.
É claro que são projeções apenas. Mas com fortes possibilidades de se concretizarem, a julgar pelo estado de espírito da categoria. Percebem como a coisa é ampla? Não se sabe onde Cunha estava com a cabeça quando destratou fortemente este contingente de trabalhadores.
Não se sabe de onde Cunha tirou tanto ódio contra estes trabalhadores. Porque uma coisa é o político falando. Outra é o homem. E ele falou como homem que odeia o funcionalismo.
Assim, nada soou mais desastroso, indigno, falso e milimetricamente pensado para as eleições vindouras do que este vídeo gravado pelo chefe de turno. A menos que fosse para pedir perdão, de joelhos, sobre dois grãos de milho. Ou feijão. A escolher. Talvez fosse melhor aceito. Ou não.
Porque para dizer o que disse, foi perda total de tempo. Ninguém acreditou. Pior, provocou engulhos no funcionalismo municipal. E em quem está solidário com eles.