O prefeito Fernando Cunha parece ter dado mais um dos seus tiros no pé, ultimamente tão constante no cenário político-administrativo local. O anúncio de que pretende construir um “centro cultural” na Praça Rui Barbosa, caiu mal junto à opinião pública, que o julga desnecessário e o valor a ser destinado, R$ 3,5 milhões, absurdo, mais exatamente, um acinte, quando Saúde e Santa Casa, especificamente, estão à míngua.
Após a divulgação do projeto feito pelo renomado arquiteto e designer de móveis Rui Ohtake na imprensa local, sites e até em nota no Diário da Região, de Rio Preto (não se sabe com que intuito, considerando que tal publicação não foi, digamos, “espontânea”), as reações dos cidadãos nas redes sociais e nas rodas, primeiro foram de surpresa por tamanho desperdício de recursos em um projeto equivocado, depois, de indignação por contemplar uma visão nada moderna de se lidar com uma praça pública.
Houve também manifestações de estranhamento quanto ao formato do prédio em questão, algo parecido a um réptil multicor, ou como bem definiu uma internauta, um “girino”. Guardado o profundo respeito que merece ter o autor do desenho, não deixam de ter razão aqueles que estranham tal estrutura.
Ela rebusca o estilo de Oscar Niemeyer, de quem Ohtake é discípulo, mas estas formas sinuosas faziam sentido num país emergente a partir da década de 60, que se pretendia moderno e futurista.
Das críticas colhidas no Facebook, por exemplo, selecionamos três, que julgamos mais expressivas do estado de espírito a que foi remetido o cidadão olimpiense, tomando a liberdade de suprimir os nomes de seus autores, mas eles estão no Face, para quem se interessar em conferir:
Gostaria de ver a Santa casa com tanto investimento assim…nossa praça já teve sua beleza…que foi retirada pelo prefeito anterior dizendo que iria tornar Olimpia uma cidade futurista e agora outro dizendo ser mais futurista ainda. Sempre tive a ideia de que praça deveria ter árvores para ajudar no nosso clima, mas não entendo porque ninguém pensa na natureza…será que esse dinheiro todo não seria melhor empregado se fosse em outras áreas? Não consigo entender o ser humano…ou melhor, a política pregada por eles.
Este outro:
Ainda bem que não me enganei na hora do voto, mas pagarei junto com a maioria essa enganação em forma de “menino mimado”, que dizia que o ex- prefeito governava de costa pra cidade é de frente pro Thermas, esse parece estar dentro do Thermas, até secretário já caiu por discordar dos desejos de agradar o turismo do chefe do executivo. Três milhões numa praça recém reformada é uma afronta à nossa inteligência, tanto quanto contratar uma empresa por 1,8 milhão pra fazer consultoria administrativa, ou seja, trabalhar pro prefeito folgar. Não era difícil de prever que um dos sócios majoritário de um grande parque, só olharia pro turismo. E ainda tem mais três anos, vamos firmes sem creche em período integral, sem especialidades na saúde, sem hemodiálise, sem bilhete único, e sem e sem e sem tantas promessas deste forasteiro.
E mais este:
A saúde continua na mesma! Por experiência própria constatei que um simples exame de sangue tem demorado 40 dias para ser entregue, imagine os mais complexos… mas isso não parece ser relevante a gestão que chamou de “aventureiro” o prefeito anterior por querer construir um aeroporto, mas tem priorizado o supérfluo e deixado em muito a desejar naquilo que deveria ser essencial.
QUESTÃO DE DEMOCRACIA
OU A FALTA DELA
Concordamos que não é justa a cobrança no tocante à Saúde quando a verba a ser destinada a esta obra, sabemos todos, vem com o “carimbo” do Turismo, portanto não pode ser direcionada à Santa Casa, UPA ou a qualquer outra despesa dentro deste Setor. Mas, isso não justifica o verdadeiro desperdício do dinheiro.
Não, estes R$ 3,5 milhões não podem ser gastos em outra coisa. Mas daí “queimá-lo” todo para dar vida a uma edificação em forma de “girino” na nossa praça central é muito temerário, além do que a deixará, de certa forma, “encubada”, fechada, ao fazer parelha com outra edificação, esta enorme, a da própria Igreja Matriz.
Talvez para a nossa praça central o que esteja faltando seja um projeto paisagístico que venha dota-la de verde, árvores, vegetação (que pode até ser artística), sim uma mini-concha acústica para intervenções artísticas, culturais e musicais, enfim, uma praça arejada, aberta, livre, leve e solta, como devem ser, em geral, as praças públicas.
E isso, com certeza, se faria com um terço ou menos do montante estimado, com um resultado melhor.
A cidade está carente de uma “morada” decente para sua Biblioteca Municipal, seguramente uma das mais bem equipadas em termos de acervo da macrorregião, mas sem prédio próprio, coisa também de décadas, mas que agora, com dinheiro, pode ser corrigida.
Para encontros técnicos ou espetáculos fechados, até cinema, temos a nossa Casa de Cultura, sempre relegada a segundo plano ou objeto de reformas precárias ou “guaribadas” somente. Investir num reforma e adequação pra valer ali, é resgatar um tesouro histórico para os olimpienses.
Além do mais, temos a Praça do PAC, ou CEU no Jardim Paulista. Por que não incrementá-la, amplia-la se for o caso, fazer dali um ambiente que atenda não somente o público das imediações, mas que tenha a amplitude de um equipamento urbano democrático e, digamos, “plurisocial”.
Aliás, parece, também, que o prefeito Cunha estaria trocando esta obra por aquela da Avenida dos Olimpienses, muito mais adequada, necessária e moderna. Além do que estaria tirando dos olhos dos olimpienses e turistas, aquele modelo de desleixo administrativo de décadas.
E o tão propalado aproveitamento da Estação Ferroviária, com a transformação dali em um espaço de artes, cinema, cultura, música e lazer. Viram, quantas possibilidades com estes fins?
Ou seja, exemplos existem a cântaros para o emprego de tão alta soma. A ideia de investir tudo na instalação na praça do tal “girino” multicor, é pensamento reducionista, retrógrado e, acima de tudo, atitude a demonstrar total desconexão dos anseios populares locais.
Se insistir nisso, Cunha estará dizendo em alto e bom som ao cidadão pagador de impostos: “Tô nem aí, tô nem aí” pra vocês. E isso é muito perigoso. Quiçá antidemocrático.
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