“Devagar com o andor que o santo é de barro”.
O irresistível provérbio português, quando dito é que esta pessoa está pedindo a outra ou orientando-a de que deve-se ter cautela, ter cuidado e calma ao fazer ou falar algo. Quem já não disse ou ouviu tal provérbio, principalmente dos mais velhos?
Pois agora ele vem bem a calhar, diante da divulgação festiva feita pelo Governo Municipal, de que a economia na folha de pagamento pode chegar a R$ 2 milhões por ano. Ou cerca de R$ 170 mil por mês, arredondando para mais.
Este Governo fala em cumprimento de compromisso firmado no início de 2017, pelo prefeito Fernando Cunha (PR), de “economizar o dinheiro público”.
Eu já disse neste blog que esta administração, quando não está parada, parece andar para trás. Ou de lado, feito caranguejo. Agora, posso acrescer que ela, quando está calada, é poeta, como já disse aquele goleador de triste figura ao se referir ao verdadeiro exemplo futebolístico que este país possui.
Não que não deva se comunicar, mas é preciso tomar muito cuidado com o açodamento verbal. Deixe-o para as ações que muito está devendo esta administração.
Até porque, comparar a folha de pagamento de janeiro deste ano com a de janeiro do ano passado não é critério absoluto. Para efeito de comparação, talvez janeiro de 2008, quando Geninho (DEM) assumiu fosse o mais adequado. De qualquer forma, há quem ache ser cedo demais para Cunha “cantar vitória” com sua folha de pagamento.
E uma das razões seria que ele ainda não preencheu todas as 70 vagas comissionadas previstas, o que terá que, forçosamente, fazer, haja vista a necessidade e, também, os compromissos de campanha. Não chegam a 50 os nomeados em comissão até hoje.
Outro fator é o de que ainda não foram designados todos os diretores e chefes de setores, divisões e departamentos, que recebem um diferencial em seus proventos. E, em última análise, também porque a máquina administrativa não começou a andar.
Engana-se quem pensa que este quadro será o quadro em definitivo do Governo, que com o passar do tempo será premido a alarga-lo, sob pena de não prestar um serviço público que supra a demanda.
E pelo lado negativo, sob pena de não ter sossego para trabalhar sem que seus aliados estejam na pressão por cargos -idem vereadores, bem sabemos todos.
E não somente na questão dos cargos, embora o foco de Cunha, conforme o texto oficial, seja a folha de pagamento. Ela não é tudo numa administração, embora seja o fator de maior consumo de recursos de forma constante.
Mas, ao que consta, o ex-mandatário sempre manteve a folha fora dos limites da atenção, fora da possibilidade de “estouro”. Gastava muito com seu quadro funcional? É relativo. Alguém aí falou em custo-benefício?
Mas, leiam o texto oficial para as considerações finais:
Como compromisso firmado, no início de 2017, pelo prefeito Fernando Cunha de economizar o dinheiro público, a secretaria de Administração divulgou que a folha de pagamento teve uma redução de R$ 112.646,21 no último mês. A comparação é referente ao período de janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
De acordo com o levantamento da secretaria, os vencimentos fixos (cargo em comissão) foram os que mais tiveram economia, um montante de R$ 74.077,72, sendo que foram pagos R$ 181.669,21 em 2016 e R$ 107.591,79 em 2017.
No total, em janeiro de 2016 foram pagos, em vencimentos fixos, subsídios, gratificação de função e estagiários, R$ 412.157,48. Já em 2017, esse valor reduziu para R$ 299.511,27. Com base nisso, estima-se que a economia projetada para o ano seja de R$ 1.827.797,40.
Notem o limite frágil da diferença. Avaliem que estamos apenas a 40 dias de um ano de 365 dias. Um mês e dez dias dentre outros dez meses e dezoito dias que faltam para fechar este 2017 e, consequentemente, o quadro das finanças em geral e da folha de pagamento, em particular.
Portanto Cunha estaria “vendendo” de forma precoce o que mais adiante pode não ter para entregar -e há quem aposte que ele não entregará.
“Uma das nossas prioridades é a redução de custos e gastos. Adotamos um critério de buscar uma administração profissional reduzindo a estrutura da prefeitura e reestruturando as secretarias municipais”, diz o prefeito.
Contraditoriamente, fala em “administração profissional reduzindo a estrutura da prefeitura”. Como isso é possível? São ações que não cabem na mesma frase. Ou ele profissionaliza (difícil saber exatamente o que isso signifique, analiso por suposto) ou reduz a estrutura. Uma coisa interfere diretamente na outra (caso esteja supondo corretamente).
Administrar, infelizmente, não comporta sonhos. E administrar entes públicos não comporta previsões de longo prazo, porque é preciso esperar sempre pelas imprevisibilidades.
Nada contra, nada mesmo, a fixação de Cunha por conter gastos. Cobra-se aqui a cautela necessária até para frear a tentação de “demonizar” o funcionalismo. Atirar em suas costas todas as mazelas financeiras de um Governo. Isso seria ruim e desumano.
Todos os funcionários são necessários, imprescindíveis para o bom andamento de uma administração e para o bom desempenho de um governante, sejam eles comissionados ou efetivos, considerando que os comissionados são nomeados por suas capacidades intrínsecas e não por compadrio ou favor político.
Louvável que o prefeito queira alcançar a cifra de R$ 10 milhões ao ano em economia.Trata-se de projeção futura, mas que não deve ter como base esta pífia diferença obtida agora porque, com certeza -e absoluta, ela se diluirá ao longo do tempo. É esperar para ver.
A propósito, há quem conheça o meio financeiro-administrativo que se diz pasmado com tal divulgação. “Não deve ser com o aval de Cunha que isso foi divulgado. Se foi, cometeu grave equívoco, demonstra alto grau de primarismo”, disse esta fonte.
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