Cidadão quer parlamentares que sigam mais a agenda de mudanças que o povo quer do que aos interesses econômicos dos poucos financiadores de suas campanha
Por Helena Sthephanowitz
Uma pesquisa de opinião realizada pelo DataSenado entre os dias 28 de abril a 12 de mai sobre a reforma política mostrou a esmagadora maioria dos entrevistados (91%) querendo reduzir o número de deputados federais para 300. Hoje são 513. Significa que o povo quer “demitir” 213 deles. Esta questão nem está cogitada para ser colocada em votação pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Para 88% dos entrevistados o número de senadores deve ser reduzido de três para dois por estado. Assim seriam eliminadas 27 cadeiras, caindo dos atuais 81 para 54 senadores. A pesquisa mostrou outros interessantes resultados:
Também 88% querem escolher os suplentes de senadores pelo voto direto, 74% querem reduzir o mandato dos senadores para quatro anos, 86% querem limitar a reeleição de deputados e senadores – e 55% querem apenas uma reeleição e 31% querem um único mandato sem direito à reeleição.
Estes números mostram clara insatisfação do cidadão com a atual representação parlamentar, desejando renovar através da proibição de recandidaturas. E revela o desejo de um parlamento mais enxuto.
Outras perguntas, listadas abaixo, demonstram que o cidadão quer reduzir privilégios e custos parlamentares e está cansado da mensagem política que recebe, querendo encurtar campanhas eleitorais, reduzir a propaganda e diminuir os próprios compromissos com o voto.
O cansaço detectado pelo levantamento deve-se em parte à própria atuação da maioria conservadora do Congresso, que notadamente impede transformações políticas que melhorem a vida das pessoas. Soma-se a isso a imagem que muitos parlamentares passam de legislarem mais em causa própria ou de lobistas, e de terem pouco zelo com o dinheiro público.
Um ingrediente a mais são os anos de pregação antipolítica na imprensa oligopólica, deixando de lado debates sobre grandes transformações e dando dimensão maior do que a real de alguns escândalos, de factoides, ‘tapiocas’, discursos oportunistas e egocêntricos, ‘CPIs do fim do mundo’, além de picuinhas típicas da disputa parlamentar, mas distante do interesse da vida dos brasileiros.
O cidadão raramente recebe uma notícia boa para si, útil à sua vida, no noticiário político vindo do Congresso Nacional, mas é bombardeado diariamente com dezenas de notícias ruins, centenas no mês, e milhares no ano. Neste clima é possível até que muitas respostas dadas ao DataSenado estejam contaminadas negativamente, e a resposta poderia ser outra se houvesse um debate amplo e rico que levasse à reflexão.
Lembrando que tal pesquisa foi feita antes de a Câmara começar a votar o tema, 80% de entrevistados afirmaram que uma reforma política traria vantagens para o país.
O cidadão certamente deseja uma reforma que tire a política do noticiário policial e a coloque no noticiário das transformações sociais. Que as notícias políticas não sejam apenas intrigas, conspirações, difamações, baixarias. Quer parlamentares agindo para implantar ideias e causas prometidas em campanha, em vez de dedicarem seus mandatos apenas a obter benesses ou à desconstrução de adversários e sabotagem aos governos a que se opõem.
O cidadão quer parlamentares que obedeçam mais a agenda de mudanças que o povo quer do que aos interesses econômicos dos poucos financiadores de suas campanhas. Quer parlamentares que não votem patifarias, como retirar direitos dos trabalhadores, ou tirar o dinheiro do petróleo que irá financiar a educação e a saúde pública, para doar a grandes empresas estrangeiras através de propostas lesivas como revogar o regime de partilha ou tirar a Petrobras da operação exclusiva no pré-sal.
Mas a reforma política promovida por Cunha é o contrário do que o cidadão deseja. É feita à imagem e semelhança de tudo de ruim que está aí, com seus vícios, como o financiamento empresarial de campanhas e partidos, a raiz da corrupção e da má representação parlamentar. Ela visa manter e consolidar regras que facilitem a reeleição e permanência no poder da atual feição do Congresso Nacional.
E o pior é que tudo está sendo votado por meio de conchavos e manobras parlamentares, sem o povo, sem audiências públicas, sem debate aprofundado, sem reflexão. Já na próxima eleição o cidadão vai concluir que nada significativo mudou, que as mazelas políticas continuam as mesmas, e que a reforma política conduzida por Cunha foi apenas maquiagem para continuar tudo como está ou pior.
E o desejo de “demitir” pode subir para bem mais do que 213 deputados.
A pesquisa do Data Senado, feita por telefone com 1.100 entrevistados em todo o Brasil, apurou também:
A eleição em dois turnos para deputado federal, votando no 1º turno no partido e no 2º turno no nome do candidato, tem a discordância de 56%, enquanto 42% concordaram;
86% disseram aprovar a eleição dos nomes mais votados, ou seja o “distritão”, para deputado estadual e vereador. A pergunta não mencionou deputado federal;
Proibição de agressões pessoais nas propagandas eleitorais é defendida por 84% dos pesquisados;
Limite máximo para os gastos das campanhas eleitorais recebeu o aval de 88% dos brasileiros;
O voto obrigatório é rejeitado por 70% dos pesquisados;
Para 55%, as eleições devem ser unificadas, acontecendo na mesma data para todos os cargos;
O fim da propaganda partidária na TV e no rádio nos anos sem eleições é aprovado por 72%;
A redução das campanhas eleitorais para um mês antes do 1º turno, é defendido por 66%;
Para 84% dos pesquisados, os parlamentares que assumirem cargos públicos no Poder Executivo devem perder o mandato;
A renúncia ao mandato para disputar outro cargo eletivo, a exemplo de deputados que se candidatam a prefeito no meio do mandato, divide opiniões, com 50% a favor e 50% contra;
Os políticos serem julgados nos crimes comuns sem foro privilegiado teve aprovação de 95% dos entrevistados.
Até.