Há mais de uma maneira de se fazer a leitura do que aconteceu esta semana nos arredores do poder. Porém, não há nenhuma outra maneira de se entender que não passou de arquitetura política do prefeito Geninho (DEM), afastar seu vice, Gustavo Pimenta (PSDB), da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social.
Pode-se até se dar o benefício da dúvida ao chefe do Executivo, mas não com um fio de certeza de que tal arranjo passou, necessariamente, pela reeleição do deputado federal Rodrigo Garcia (DEM). O prefeito disse, por exemplo, que “foi feito um trabalho de consultoria e caderno de metas para cada setor de sua administração, e os próprios secretários, com suas equipes, estabeleceram metas, alguns com metas mais tímidas e outros, mais ousadas, construindo assim um parâmetro”.
Depois, acrescentou que “pelo menos 60% dessas metas, a quatro meses de terminar o ano, têm que ter sido cumpridas”. Bom, estamos em fins de agosto, a começar setembro, conta-se o prazo de quatro meses para o fim do ano. “É importante, às vezes, oxigenar alguns setores, especialmente em segundo mandato”, disse ele.
Por mais cuidadoso que o prefeito tenha procurado ser ao dizer tais coisas, ele deixa implícita a crítica ao seu vice, no entender do blog, ao sublinhar a necessidade de que todos os seus secretários tinham que cumprir 60% dessas metas até a entrada do terceiro quadrimestre do ano. Simbolicamente extrai-se o quê de tal afirmação: que Pimenta não cumpriu a meta!
O mesmo destino, pois, teria tido seu colega de Governo, Renê Galette, igualmente defenestrado da Secretaria de Obras. Ao contrário deles, a secretária Eliana Monteiro teria chegado lá, já que ela se prontificou a sair e o prefeito pediu que ficasse mais um pouco. E na Saúde, com tantas críticas públicas recebidas, a secretária tem cumprido a meta? E isso vale para todos os demais…
São quatro secretarias envolvidas nesta reestruturação: João Paulo Poliselo, o Pita, deixa o Escritório de Captação de Recursos-ECR, que tem status de Secretaria, e assume a Secretaria de Governo, que estava sob gestão interina da secretária do Gabinete, Cássia Recco, desde a saída de Paulo Marcondes.
Já na Secretaria de Obras, sai Galette e assume o também engenheiro, funcionário de carreira da prefeitura, Luiz Carlos Benites Biagi. Na Secretaria de Promoção e Desenvolvimento Social, assume a advogada Ana Cláudia Finato Zuliani, a primeira-dama do município.
No tocante à primeira-dama, um adendo: ela é advogada, portanto não-técnica da área. Vai aprender como se faz. Para isso, leva consigo a assistente social Edna Marques da Silva, que tem se constituído em seu braço direito desde a posse no Fundo Social de Solidariedade (que aliás voltará a ter a mãe do prefeito, Cida Zuliani, como presidenta).
Ainda é controverso o assunto quanto a ela poder receber proventos enquanto secretária. Não ficou claro na entrevista concedida pelo alcaide ao semanário Planeta News se ela vai ou não receber os R$ 7,3 mil mensais. Uma outra primeira-dama de idos passados teve problemas com a Justiça, bem como seu marido, prefeito, por ter recebido para trabalhar, exatamente no Social.
Por último, fica a suspeita de que sua presença ali, naquela Secretaria tão estratégica em períodos como esse, possa ter muito a ver com a campanha de Rodrigo Garcia. O blog não está querendo dizer, nem insinuar nada, mas parte de uma constatação: Pimenta era o único dos secretários que não estava engajado na campanha de Garcia, já que por dever partidário seu candidato à Câmara Federal é Bruno Covas (PSDB).
Portanto, a decisão do prefeito revestiria-se de uma aura política ou, mais escancarado que isso, eleitoral. Também é possível desenvolver outra teoria, esta futurista: a primeira-dama tem carisma, gosta, ao que parece, de estar no meio da massa, e também da política. Não existe “vitrine” melhor para um(a) pretenso(a) futuro político(a) do que o Social. E ao lado de gente que desbrava as quebradas e mocambos sem cerimônia, pode estar pavimentando seu caminho futuro.
Trata-se de uma teoria. Ninguém está livre de as ter. Para justificar a nomeação da esposa como secretária, o prefeito usou do seguinte argumento, conforme publicado no Planeta News:
Consultei vereadores, outros secretários e minha base do Governo para a decisão. Nomear a Ana, minha esposa, pode parecer para muitos uma tarefa caseira, por outro lado uma tarefa difícil, pois vou colocar a mãe da minha filha na linha de frente. Mas eu disse tanto para ela como para o Gustavo, que o que está em jogo não é competência, os dois são formados em Direito e têm perfis parecidos. O que está em jogo é a empolgação. A Ana à frente do Fundo Social de Solidariedade demonstrou muito comprometimento e acima de tudo ânimo em resolver as questões. Eu praticamente vou doar um pedaço da minha família para servir ao município, e de comum acordo com o Gustavo.
E quanto a Pimenta, disse:
Não houve nenhum rompimento, muito menos incompetência mas, sim, o entendimento de fazer a gestão mais eficiente e com mais resultados, e que os serviços fins do Social cheguem cada vez mais nos cidadãos, é somente uma decisão de gestão.
“Que os serviços-fins do social cheguem cada vez mais nos cidadãos”. A questão é saber se de forma técnica ou político-eleitoral.
Até.