Não há, seguramente, qualquer argumento plausível que convença os mais lúcidos de que manter nosso Festival do Folclore em julho seja positivo. Ou que nesses três anos de Fefol antecipado em um mês os resultados foram diferentes, com mais público, mais faturamento, turistas em profusão.
Não bastasse a tibieza de justificativas por parte do Poder Público, que vem amargando fiascos seguidos de fiascos com a teimosia de manter a nossa festa maior neste mês que se finda, agora os opositores ganharam um reforço argumentativo: o risco iminente de estarmos mergulhados numa “geladeira”, como foi o caso presente, no mês de inverno mais intenso.
No primeiro e segundo anos da festa em julho, tentou-se, de todas as maneiras, dourar a pílula dos resultados, colocando o “staff” de divulgação à cata de turistas e tentando mostrar que sim, eles estavam lá. Além do que tentaram impor uma “realidade” que não se revelou: a de que as férias escolares facilitariam as coisas para pais, professores, turistas e os próprios estudantes, “que não ficariam sem aula por uma semana”. Falácias.
O que ficou provado sem qualquer possibilidade de contestação é que a antecipação não fez uma coisa nem outra. Apenas piorou, e muito, os resultados. Em todos os sentidos. E, no mais visível deles, a redução drástica de público.
Os turistas, por sua vez, não supriram as demandas de segunda, terça e quarta-feiras, noites em que o público olimpiense, talvez até por questões econômicas, não costuma aparecer pelo Recinto de Atividades em número considerável. A se dar crédito a quem defende essa tese do turista indo ao recinto, estas noites deveriam ser de recinto cheio, ou não? Os turistas compensando os olimpienses ausentes.
E dizer que a antecipação evitaria que as crianças ficassem sem aula durante a semana de realização da festa é outra sandice. Até mesmo porque, ao contrário do que podem imaginar, seguramente as crianças das redes municipal e estadual podem ter, durante o Fefol, uma semana educacional das mais ricas, caso tenham professores dispostos a ensinar-lhes Folclore. Porque é ciência, é conhecimento, é cultura.
Os professores em férias, por sua vez, também ficam arredios aos afazeres no entorno da festa no que diz respeito à área da Educação. Em plena atividade não, porque ali estariam sendo contadas horas-aula, enfim, servindo-lhes como atividade pedagógica.
As crianças fora da sala de aula trouxeram outros dois inconvenientes: fez com que a Gincana de Brinquedos Tradicionais e Infantís fosse um retumbante fracasso, por falta de…crianças para as brincadeiras – uma vez na escola, iam em caravanas para brincar na arena. O outro inconveniente foi a falta de personagens para a cerimônia de abertura em homenagem ao Mato Grosso.
Se antes da indigitada antecipação de data entre 500 a até 700 alunos municipais integravam o corpo coreográfico da abertura, nos últimos três anos este número foi minguando, até chegarmos ao vergonhoso número de apenas 120 alunos sábado, dia 20. As férias impedem também que recebamos as caravanas de estudantes que todo dia chegavam à cidade, e em grande número no sábado final e no domingo de manhã e à tarde, para o desfile e depois Recinto.
Quanto ao evento propriamente dito, há que se ressaltar um perigo: estamos no limite da mediocridade cultural. Nos aproximando perigosamente da “cultura de mercado”, aquela do espetáculo, do bonito, para juntar gente e os olhos verem. A alma adormecida porque, afinal de contas, quem gosta de Cultura?
Um redesenho se faz necessário, uma releitura de forma e conteúdo. É precisa dar ao evento o equilíbrio de importância necessário ou, melhor ainda, de acolhimento de seu propósito, que é o de fomentar e difundir conhecimento e Cultura.
Sim somos pedantes – e todos nós olimpienses devemos nos ufanar disso! -, nesta nossa resiliência, nesta nossa patologia da resistência cultural.
Porém, é por demais piegas a centralização das atenções dos organizadores somente com o “momento palanque”, quando tantas outras coisas – e poderiam ser mais, bem mais coisas! -, são realizadas no entorno do Festival, ao longo do dia. Então, porque não se dar a devida e igualitária divulgação também aos seminários, aos minifestivais, à peregrinação folclórica, as danças na praça e no Museu, às serestas e até – por que não? -, aos jogos de truco, bocha, malha, etc?
São fatos que compõem o corpo do Festival, que engrandecem o todo, aliás, só assim se forma o todo do Fefol. Portanto, há que se pensar em colocar o aparato de mídia e divulgação do poder público ou contratado por ele, a serviço do evento, em regime integral.
É muito simplório ter-se a preocupação somente com o palanque e esquecermos o resto. Mostramos o “rosto” de nossa festa e, parece, nos envergonhamos do “corpo” que ela tem. Assim, necessário se faz repensar forma e conteúdo para 2014, ano do Jubileu de Ouro, o cinquentenário que bem poderá marcar não o resgate – termo que chega a ser pejorativo quando se refere a cultura, conforme aprendi num dos seminários -, mas o “redescobrimento” do Festival do Folclore olimpiense.
Sempre é tempo de redescobertas. Considerando que a 50ª edição fechará um ciclo. E que outro se abrirá a partir da 51ª. Essas são as únicas certezas de que dispomos. Será então o momento de se saber para que serviram estes primeiros 50 anos, considerando que o criador dos Festivais, saudoso José Sant’anna, deixou um legado que não se esgotará em menos de 100 anos.
Mas, para que isso valha, é imperioso que as emoções folcloristas dentro de cada um de nós durem, também, tanto tempo ou mais!
Até.