O site de notícias “Diário de Olímpia” e o semanário “Folha da Região”, este no seu formato digital, estamparam manchete por meio da qual acusam o vereador Hilário Ruiz de ter perpetrado um “golpe” dentro do Partido dos Trabalhadores-PT, visando levar a sigla a integrar a coligação de sustentação à candidatura do vereador João Magalhães, do PMDB, e seu candidato a vice, médico-pediatra José Roberto Bijotti.

No primeiro caso, sabe-se que o “Diário” segue a “cartilha” eleitoral do grupo no poder, já que é sobejamente sabido, ao prefeito Geninho (DEM) interessa mais que nunca, duas cadidatura oposicionistas. Enquanto no segundo caso, sabe-se que o editor e assistente de editor da publicação estão por trás da candidatura de Helena Pereira e Frei Flaerdi, que julgam prejudicada com a contradecisão de Ruiz.

Conclui-se que ambos o veículos, portanto, não estão usando de isenção ao fazerem uso do termo bastante pesado, ofensivo e detrator “golpe”, que tem como sinônimos, entre outros, ardil, artimanha, truque. Na classificação filológica, “golpe” seria uma ação desleal, visando prejudicar alguém ou tirar vantagem sobre ele (este alguém).

No caso presente, têm razão ambas as partes do embate, menos aquela que atribui somente a Ruiz um possível “golpe”. Se “golpe” há de um lado, o mesmo se pode dizer do outro, que da mesma forma tenta conduzir o partido para o lado que julga mais pertinente aos seus propósitos político-eleitorais. Se não é um ditado, e se ninguém até hoje o disse, nem escreveu, então entra para minha lavra o que vai escrito à frente: às vezes, democracia demais atrapalha. E o que está sendo demonstrado nesta refrega entre PT e PT dá bem a dimensão disso.

Para que o leitor entenda e forme sua opinião: na quarta-feira da semana passada, 27, o presidente da Executiva Municipal do PT, Marcos Sanches, convocou os filiados do partido para um encontro na sede do Sindicato dos Bancários, onde os que estivessem em dia com as abrigações do Estatuto partidário, votariam em uma prévia visando nortear a direção a ser tomada em termos de candidaturas a prefeito e vice. Pois bem, cerca de 40 pessoas compareceram, das quais 33 votaram na prévia.

Destes, 17 teriam optado pela candidatura de Helena Pereira, e 16 pela de Magalhães. Escolheram a primeira opção o chamado “PT antigo”, e a segunda opção foi a do chamado “PT novo”. O primeiro grupo votou conforme a orientação havida entre eles, do partido não se coligar com o PMDB, por razões políticas ainda não digeridas do passado recente – vide ex-prefeito Carneiro e até o ex José Carlos Moreira. Por conta disso, por causa desta mágoa trazida por entre os muitos anos passados, o “PT antigo” fechou questão em não se coligar com Magalhães.

O chamado “PT novo”, no entanto, mais preocupado com a elegibilidade de candidatos a uma cadeira na Câmara, optou por Magalhães, rechaçando o passado e mirando na pessoa política e não no partido político. Ou seja, pessoalizaram a escolha, enquanto o outro grupo partidarizou-a. Independentemente das razões de um ou de outro lado, o fato é que o partido “rachou” a partir do momento em que se colocou a decisão nas mãos dos filiados. Ambos os lados, como já disse, tem seu lado político-eleitoral nesta estória. E ambos procuraram defendê-los, naquela noite.

Pensando no estrago que tal decisão causaria, uma vez que o PT coligado com Helena Pereira não levaria PV e PSD, Ruiz então passou a arguir que a decisão sobre apoio a este ou àquele candidato, seria decisão da Executiva do partido, anulando a decisão do colegiado. E assim foram todos para a convenção de sábado.

Vai e vem, bate-boca, corre para lá, corre para cá, desaforos de um lado e do outro, até que se decidiu por convocar a macrorregional de Rio Preto, que no início da tarde aportou no Sindicato. Reunião a portas fechadas, o PT representado pelos “antigos” e pelos “novos”, mais bate-boca na saleta e quase duas horas depois a decisão: a macro não reconheceu o encontro como legítimo para definir os rumos do partido e confirmou o que Ruiz e outros próceres partidários vinham defendendo: quem decide é a Executiva.

A Macro não confirmou porque foi informada – diante também do “PT antigo”-, que teria havido problemas legais e técnicos durante o encontro e a votação – um deles seria a falta de quórum. Posta para a Executiva, venceu a proposta de coligação com Magalhães, por quatro votos a um. Votou contra a primeira-secretária do partido, a psicóloga e advogada Mônica Maria de Lima Nogueira, que no entanto em seguida riscou seu nome da lista de votação. Logo em seguida saiu da sala dizendo aos presentes lá fora que iria recorrer à Estadual e até à Federal do partido.

A lógica de Ruiz se pautou no fato de que, caso se coligasse com Helena Pereira, PV e PSD não seguiriam o partido, conforme dito acima, inviabilizando sua reeleição, provavelmente, e impossibilitando que outros também pudessem chegar lá. Ambas as siglas ficariam, de qualquer forma, com Maglhães.

Depois, a segunda arguição foi a de que já há uma afinidade eletiva entre PT e PMDB em nível federal. Tratou-se, portanto, como definiu Ruiz ao final do encontro, de uma “opção pela elegibilidade” dentro do PT. E o partido como um todo preza muito isso. Os “antigos” muito bem o sabem.

Se não querem aceitar é um direito que lhes assiste. O mesmo que assiste a Ruiz o de não querer aceitar as diretrizes impostas por eles. No âmbito da truculência partidária, portanto, nenhum pode acusar o outro. Ambos os lados estão medindo forças. Ambos os lados se acham cobertos pelo estatuto partidário.

Compete a quem quiser, dirimir entre os “refregantes” quem está mais legitimado dentro da agremiação. Por hora e em nivel municipal, a decisão está tomada. O que vai decidir a Estadual e/ou a Federal quanto a isso, só ao final dos dias que correm será mostrado.

Por ora, o PT, mais uma vez, assume a condição daqueles dois burricos que, amarrados juntos, tentavam, cada um, alcançar o tufo de grama à sua frente. A corda esticava, e nenhum deles chegava à comida. Até que exaustos e famintos, se voltaram um para o outro e entenderam a razão de tamanha dificuldade. E o que fizeram? Foram juntos primeiro a um tufo de grama, e depois novamente juntos ao outro tufo de grama. E assim saciaram a fome. Espera-se que o PT, desta vez, ao contrário das anteriores, não morra de fome.

Até.