O projeto do conjunto habitacional “Village Morada Verde”, com 786 unidades entregues nos dias 12 e 19 passados foi concebido para ser “um exemplo” ao país, e um modelo a ser seguido pelos demais conjuntos. Foi anunciado até que a CAIXA iria lançar, em todo o País, por meio dos principais jornais e emissoras de rádio e TV, a campanha “Se deu certo em Olímpia, vai dar certo em sua cidade também”, utilizando-se do caso inédito e “de sucesso local” na utilização de um Correspondente Bancário CEF.

Não se sabe se a instituição ainda vai levar adiante a idéia da campanha, pelo menos no quesito “correspondente bancário”, porque o conjunto em si, pelo que se viu e se pôde apurar, não serviria de exemplo para cidade nenhuma.

Diz textos publicados à época que “superintendentes, diretores e funcionários da Caixa Econômica Federal-CEF da região, do Estado e do País, estiveram em peso naquela manhã do dia 17 de setembro, uma sexta-feira, na Casa de Cultura, não apenas para lançar o primeiro bloco de 436 casas – de um total de 800 – do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, e já com a construção do ‘Village Morada Verde’ tendo sido iniciada antes mesmo da assinatura dos mutuários, mas para anunciar que as próximas 100 mil casas que a CEF ainda dispõe dentro do programa federal, em todo o País, seguirão o ‘caso de sucesso, pioneiro e inédito’ de Olímpia, ou seja, através de um correspondente bancário Caixa, aliviando as agências e agilizando, e muito, todo o processo”.

PRESENÇA IMPORTANTE
Estavam entre as autoridades os superintendentes nacional e estadual do ‘Minha Casa, Minha Vida’, respectivamente José Urbano Duarte e Maurício Quarezemin, de Brasília. “Para vocês terem uma idéia da importância desse evento para a Caixa, está presente o José Urbano Duarte, nada mais, nada menos, o responsável do programa ‘Minha Casa, Minha Vida’, para todo o País”, comemorou Quarezemin. “Eu cuido do programa no Estado de São Paulo, mas convidamos o Urbano para estar hoje em Olímpia. Ele cuida do Brasil inteiro. Ele teria 5 mil municípios para estar hoje, mas está em Olímpia”, complementou.

OCASO DO SUCESSO
Todo o processo do “Minha Casa, Minha Vida” em Olímpia se desenrolou por meio de um correspondente bancário CAIXA, no caso, a ICJ Assessoria Imobiliária, sob a responsabilidade de Ivan Castro Jodas. Na época foi considerado um risco para a CAIXA, para a ICJ e para o sucesso do programa, e agora se vê que com razão.

No dia 24 de junho do ano passado, feriado local do Padroeiro, São João Batista, Olímpia recebeu o que foi considerada “uma filial” da CAIXA na Praça Rui Barbosa, que contou com 20 funcionários. Lá colheu inscrições, orientou, tirou xerox de documentos dos mutuários, fez o cadastro e a triagem. Como se fosse uma agência de verdade.

Os responsáveis consideraram “um sucesso”, porque pouco mais de dois meses depois os mutuários começaram a assinar os contratos e, outra promessa que não foi cumprida, porém anunciada com pompa naquela manhã, pelo superintendente estadual do programa, poderiam fiscalizar o andamento das obras, “corrigindo até o tijolinho da parede que ficou torto”, detalhou.

EXEMPLO NACIONAL?
Maurício Quarezemin, o superintendente estadual da CAIXA, disse na ocasião que Olímpia seria “projetada para o Brasil inteiro” porque naquele momento a CAIXA estava preparando algumas matérias para enviá-las “a todos os grandes jornais do Brasil, porque temos para comercializar, nos próximos meses, 100 mil unidades, e só será possível se tivermos a parceria desses correspondentes bancários”.

E o primeiro que fez a comercialização de 100% de todas as unidades foi a ICJ, “que a Caixa escolheu e garantiu para ser o caso de sucesso para divulgar para o País todo dizendo: ‘Se deu certo em Olímpia, vai dar certo também para todos os lugares do Brasil’. E esta é uma das principais razões do banco estar aqui praticamente em peso nesse evento”, disse Quarezemin naquela manhã de festa.

PREFEITURA PARCEIRA?
Nos discursos dos superintendentes regional Clayton Rosa Carneiro, e estadual Maurício Quarezemin, a ênfase foi para o “envolvimento total” da prefeitura na concretização do conjunto habitacional. “Não se faz um projeto dessa grandiosidade se não tivermos o envolvimento da prefeitura e do Legislativo. O programa ‘Minha Casa, Minha Vida’ dá os caminhos, faz a legislação possível para isso, mas se não houver o empenho pessoal dos que comandam o Executivo e o Legislativo, não tem como sair”, ressaltou Carneiro.

O programa saiu, segundo ele, “porque teve infra-estrutura cedida pela própria prefeitura”, já que “a construtora, por si só, não teria condições de realizar o empreendimento. Aí destaco o que sempre disse: esse programa pode ser estendido para qualquer município”, planejou Carneiro.

Palavras endossadas pelo superintendente estadual que viera de Brasília: “Você não consegue viabilizar um empreendimento de 436 casas – falava-se, então, apenas das casas de dois quartos -, se não tiver a participação e envolvimento da prefeitura. É quase uma nova cidade, é um novo bairro. Não bastam as casas, é preciso ter asfalto, esgoto, iluminação, meio ambiente, uma série de ações que, se a prefeitura não topar, decisivamente, não há como viabilizar”. Outras 350 casas foram construídas com três dormitórios.

PROMESSA NÃO
CUMPRIDA
Foi neste encontro festivo que o superintendente Maurício Quarezemin fez o compromisso e a promessa jamais cumpridos: “É bom ressaltar que na assinatura do contrato a posse do imóvel está garantida. Vocês já sabem o local em que serão construídas as casas. Se não tiverem o que fazer no domingo à tarde, vai ver como está a sua futura casa”, orientou. “Meu time está perdendo, vou continuar vendo? Não. Vou ver a minha casa”, brincou.

Depois, sério, assumiu: “Quero convidar vocês para, a partir de agora, em todos os finais de semana, dar uma passadinha, uma olhadinha, na casa de vocês. Podem até conferir se o tijolinho da parede está torto e cobrarem da construtora”, autorizou, na manhã daquele final de setembro.

Mas, os compradores nunca puderam entrar no conjunto para ver se o “tijolinho” estava no lugar certo, durante a construção. Exceção feita por uma “visita técnica” a uma “casa-modelo”. Depois, só viram as casas quando estavam prontas e entregues. Ou, melhor, quando não estavam prontas, mas entregues.

Até.