A melhor defesa é o ataque. Esta máxima de domínio público acaba de ser transformada em principal escudo do Governo Municipal visando encobrir sua notória incapacidade de gerenciamento do setor da Saúde, mormente a Santa Casa de Misericórdia de Olímpia, que caminhava para uma situação de plena tranquilidade, e que a partir da usurpação de sua administração pelo prefeito Geninho (DEM), e sua secretária municipal de Saúde, Silvia Storti, tornou-se um pandemônio.
Na realidade, sem saber exatamente por onde sair da embrulhada em que a arrogância e a prepotência os levou, o Governo Municipal parte ferozmente para o ataque, com fins defensivos. Com pretensões de defender o indefensável, justificar o injustificável, ou pelo menos jogar uma grossa cortina de fumaça sobre o assunto, tão rumoroso no seio da opinião pública, e tão desgastante para os gestores municipais. O prefeito e sua secretária – que insistem em inculcar nos cidadãos que nada têm a ver com a gestão do hospital, foram, mais uma vez, buscar guarida junto ao Ministério Público.
A “bala de prata”: Conforme o blog oficioso de Leonardo Concon, há suspeitas de que as fotos da dona-de-casa caída dentro do PS podem ter sido forjadas por Willian Zanolli, colaborador do semanário “Folha da Região”, que estava lá no dia fatídico em que uma jovem mulher de apenas 29 anos, acabou morrendo implorando por socorro, ou por pelo menos uma cama onde pudesse repousar seu corpo combalido e, conforme se viu depois, às portas da morte.
Concon, que é desafeto confesso de Zanolli e não esconde o afeto que se encerra em seu coração por este Governo que aí está, saiu com esta manchete, em maiúsculas, na sua página noticiosa: “BOMBA: FOTOS DA DONA DE CASA CAÍDA DENTRO DO PS PODEM TER SIDO FORJADAS POR WILLIAN ZANOLLI”.
Claro que, antes, ele aguardou o sinal verde do Palácio da 9 de Julho, que é de onde extrai as informações oficiais, as versões que para ele são sempre suficientes para explicar as coisas desta urbe. Mas, a culpa não é dele. É apenas um inocente útil que se deixa, e se compraz, em ser usado pelos poderosos de turno.
Abrindo o texto com o selo “exclusivo”, o noticiarista disse que ”a morte da dona de casa Fernanda Silva Santos, 29 anos, no último dia 24 (…), aos poucos está sendo esclarecida de forma correta e sem o sensacionalismo que aquele jornal deflagrou”. Perceberam ali o “correta”, quando o caso ainda está sob análise no Ministério Público? Mas, Concon não tem culpa.
Segundo ainda o site, ”o Ministério Público tem um filme em que mostra o colaborador da ‘Folha da Região’ cochichando com Fernanda, que estava numa cadeira de rodas e, segundos depois, ela teria se jogado, com ajuda da pessoa que a acompanhava, para que Willian pudesse fotografar (e não o fotógrafo Sílvio Facetto, como o jornal divulgou). Ninguém a socorreu até que as fotos fossem tiradas, nem mesmo a acompanhante da mulher que aguardava a sua vez naquele Pronto-Socorro”. Percebam que a suposição já virou certeza. Mas, Concon não tem culpa.
E mais: “No levantamento do Inquérito Civil 15/2010, que está na 4ª Promotoria de Justiça do Fórum da Comarca de Olímpia, sob os cuidados da promotora Daniela Ito (Echeverria), não faltou atendimento para a vítima nas quatro vezes em que esteve naquele PS com sintomas de embriaguez, já que sofria de etilismo”. Aqui, a vítima começa a correr sério risco de virar réu. Mas, Concon não tem culpa.
O pessoal faz questão de lembrar até mesmo da expulsão de Zanolli do Conselho Municipal de Saúde, detalhe com certeza constante da representação, com o fito de passar talvez a idéia de vingança perpetrada por ele, jovenzinho ingênuo que nunca passou por poucas e boas durante o Regime Militar e não sabedor de como o poder age quando quer se safar. Diz a turma que sua expulsão foi “por infringir o artigo 28 de seu regimento interno”, ou seja, por “conduta incompatível com a função de conselheiro”.
Sim, porque neste Governo a função “compatível” de conselheiro parece ser a de assinar documentos e dizer “sim” às imposições da secretária. Zanolli, ingênuo, achou que a função era fiscalizar o andamento do setor, conferir contas, dar opinião, sugestões, e questionar situações, digamos, fora dos “trilhos”. Mas, Concon não tem culpa.
Áh!, e ele ”seria vizinho da vítima, por isso a intimidade em conversar ao seu pé do ouvido”. Puxa, eles queriam que ele gritasse: “cai aí, desvalida, que eu quero fotografar!”? Mas, o Concon não tem culpa.
“O filme, gravado pelas câmeras de segurança da Santa Casa, mostram claramente Willian conversando com a dona de casa de 29 anos. Após cochichar, ela foi empurrada da cadeira, inclusive pela sua acompanhante”. Aqui, uma grave acusação, uma conclusão sobre o que foi visto.
“A suspeita é de que tudo tenha sido tramado entre ambos para chamar a atenção e Willian poder levar fotos de impacto para a ‘Folha da Região’. O mais suspeito é que ninguém socorreu, nem mesmo a acompanhante e as câmeras flagram o ‘paparazzi’ tirando fotos à vontade”. Se você está dentro de um PS com alguém gravemente doente, e esta pessoa tem uma forte crise, o que você faz? Grita, chama alguém, espera pelo médico ou por enfermeiros. Ou não? Mas, o Concon não tem culpa.
O Inquérito Civil foi aberto porque a família de Fernanda fez denúncia de descaso, e de falta de atendimento dos médicos plantonistas, como se noticiou na ocasião. “A promotora pediu para a Santa Casa o registro do histórico do atendimento, os prontuários, as escalas dos médicos nos últimos 30 dias e também a escala dos dias em que a mulher foi atendida, entre outros pedidos”, diz o texto.
“A Santa Casa enviou a documentação para o MP com a ficha médica da paciente, comprovando que padecia da doença de etilismo e que, nas quatro vezes em que foi atendida naquela semana, com sintomas graves de embriaguez, houve atendimento e medicação, detalhando os nomes dos profissionais que a atenderam assim como a medicação aplicada. E, junto, o filme de segurança captado pelas câmeras nesses quatro dias e, finalmente, no sábado, com a possível encenação armada pelo assessor da Folha da Região”, segue o texto.
Os bombeiros atestaram que a moça já chegou sem vida ao hospital no domingo, 24. Há também declarações da médica que a atendeu no dia anterior, sábado (23), e do médico no dia seguinte. Agora, a pergunta que não quer calar: o que isso tudo vai resolver? Vai trazer alento à população que sofre na carne, o dia-a-dia turbulento na Saúde local? Vai ptrovocar melhora substancial no setor, vai trazer mais médicos para a cidade, mais plantonistas para o hospital, mais capacidade de gestão a quem tomou a frente daquela instituição médica?
O que isso vai mudar no panorama? Ainda que Zanolli, eventualmente, tenha culpa neste cartório, e nós, o povo usuário daquele PS, o que temos com isso?
Lembro que objetivo deste post não é a defesa do colaborador do jornal – que até pode ter feito tudo isso, embora duvide pelo que conheço da figura. Nem o ataque a Leonardo Concon, que de resto cumpre sua missão de porta-voz do poder. Nem, tampouco, o de exercer a crítica da razão – já que a situação está mais para elogios à loucura.
O objetivo deste post é este somente: o de colocar um ponto de interrogação nesta busca desesperada por um bode expiatório, um faits divers para anuviar o caos absoluto em que mergulharam a mais básica das atenções devida à população pelo poder público: a saúde. E fazer sangrar Zanolli publicamente não vai mudar em nada este panorama. Sua crucificação só servirá como pano de fundo a este teatro do absurdo que a comunidade olimpiense tem vivido nestes tempos de meu-deus.
Até.
Comentários fechados.