Como o cúmulo da incoerência pode ser classificada a “confissão” que teria sido feita pelos vereadores Salata (PP), líder do prefeito na Câmara, e Guto Zanette (PSB), a um grupo de 24 paramédicos com os quais se reuniram na sala de reuniões da Câmara Municipal, na tarde de quarta-feira, 30. Apesar de todo empenho de ambos durante a sessão de segunda-feira para defender e fazer aprovar o projeto de Lei Complementar que reclassifica funcionários, cria novas vagas para efetivos e comissionados, com isso provocando um “rombo” superior a R$ 1,2 milhão no caixa da prefeitura, disseram eles que não tinham idéia do que estava por trás do texto do projeto.
E não é só isso. Ambos teriam dito, também, que nem sempre têm oportunidade de conhecer previamente os projetos que são encaminhados para a Casa de Leis, porque “chegam sempre com regime de urgência”. É de deixar estupefato qualquer cidadão mais consciente de suas obrigações. Então, por que aprovam projetos em regime de urgência sempre que o prefeito pede? E, muitas vezes, o próprio Salata é quem pede a inclusão na pauta em urgência. E depois defende com unhas e dentes a propositura do Executivo, com falatório interminável. Aí, sem mais nem menos, diz que no mais das vezes não sabe o que contém este ou aquele projeto vindo do Palácio 9 de Julho?
Ou foi um ato falho daqueles de fazer qualquer político se arrepender para o resto da vida de ter cometido, ou apenas jogo de cena do vereador, apostando na inocência política de psicólogas, assistentes sociais, dentistas, fisioterapeutas, enfermeiras, etc., pois era a este público que ele falava na Câmara. Pode ser uma coisa e pode ser outra. Se for realmente verdade o que afirmaram Salata e Zanette, então ambos estariam cometendo o crime da prevaricação, pois não estariam cumprindo condignamente com a função que o cargo lhes exige. Se for jogo de cena, mais cedo ou mais tarde, ambas as máscaras cairão.
Mas, pelo sim, pelo não, fica no ar a impressão de que os vereadores, em sua maioria, estariam ali como simples homologadores das vontades do alcaide, e perigosamente votando tudo que lhes cai na mesa, conforme teriam confessado, “sem tomar conhecimento prévio”. E, por outro lado, mais temerosamente ainda, somos levados a imaginar que o vereador Magalhães (PMDB), quando argüi inconstitucionalidade de projetos e é fortemente contestado por Salata e Zanette, pode ter razão no que diz e a Casa de Leis, então, estaria aprovando matéria sem base legal e constitucional, que pode ser contestada lá na frente.
Seria o caso, por exemplo, dos PLCs dos funcionários do Daemo e Prefeitura, que têm como origem PLC de 2003, que está sob Ação Direta de Inconstitucionalidade. Se ele cair, todas as outras baseadas nele caem, também. O prefeito teria que revogar aquela e fazer uma outra, nova, e não, de certa forma, dar sequência a ela, que está sob análise da Justiça. E não teve vereador situacionista que o alertou quanto a isso. E agora acredito que já sabemos o por quê.
Até.