Poderia ser apenas resultado de um fenômeno natural. Pode ser resultado de um mal planejamento de obras. Pode ser até a mão pesada de Deus. Mas, o que com certeza não pode ser é um acontecimento banal e adequado para discursos políticos como o que o prefeito já ensaia via portal oficialesco. Este é o mal de Geninho (DEM) – entre outros, claro. Tudo é passível de render-lhe dividendos políticos, seja qual for a gravidade ou intensidade do acontecimento. Triste compulsão esta do alcaide, de politizar tudo. Mais triste ainda é a compulsão pelos discursos insinceros.

A impressão que dá é a de que o prefeito minimiza fato gravíssimo ao mesmo tempo que aproveita para fazer propaganda de suas ações frente à tragédia. E revela, também, uma total falta de direcionamento, organização, espírito de mando e noções de como agir em situações como essa.

A tromba d’água – sim, aquilo foi muito mais que uma forte chuva, reconheçamos – assolou a cidade no começo da noite de ontem, por cerca de uma hora, causou destruição, e só agora o alcaide vem dizer que “as equipes do Fundo Social de Solidariedade e da Assistência Social, estão tomando providências para contabilizar os estragos da forte chuva que ocorreu ontem no final da tarde”. Que equipes? E por que o Fundo e a Assistência, quando o que se pede são homens, braços fortes para remoção da lama? Aí o viés eleitoreiro, perceberam?

Não se espantem se daqui a pouco não se ver publicadas por aí imagens da primeira-dama “e sua equipe” metendo os pés no barro, mas com sorrisos nos rostos (para ficar bem na foto) e também o prefeito segurando, sei lá, uma enxada, um rodinho ou vassoura, ar compungido, ao lado de um assessor qualquer, calças arreadas até as canelas, ambos, muito prestativos e solidários. A Açúcar Guarani, logo em seguida, com seus homens de verde, também tirando uma “lasquinha” no marqueting. As lágrimas dos atingidos pela tragédia, serão apenas reforço emocional às imagens.

“Só em questões (sic) de muros caídos, asfalto quebrado e outros danos em áreas públicas, o prejuízo gira de R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões. Vamos buscar recursos segunda-feira cedo, na Defesa Civil do Estado.” Esta foi a primeira reação do alcaide. Contabilizando prejuízos. Anunciando viagem em busca de dinheiro. Para ele, ao que parece, tudo se resume a isso. Contabilidade, viagens, recursos.

E o que ele quis dizer, exatamente, quando anunciou que a primeira-dama e o vice-prefeito, na qualidade de secretário de Assistência Social, estarão, hoje e amanhã, “visitando áreas prejudicadas, mapeando a situação, e atendendo, na medida do possível, as pessoas que necessitam de ajuda”? “Foi uma das mais fortes chuvas que já presenciei na cidade. Estive pelas ruas no pico dela e pude constatar que a força da natureza é implacável”, foi a análise da situação exarada pelo alcaide.

Mas, um mea-culpa neste imbróglio cairia muito bem e faria justiça a tantos injustiçados – incluíndo aí um seu assessor-mor, que teve a casa, bem como a de seus vizinhos, invadida pela lama. Sim, porque não foi somente “a natureza implacável” a responsável por tudo o que se viu acontecer na cidade. Basta lembrarmos que os locais onde a tragédia foi maior são exatamente aqueles onde há “obras” iniciadas e não tocadas por ele.

Para darmos um exemplo bastante eloquente, a casa do assessor-mor foi invadida pela lama oriunda da área terraplanada do Jardim Centenário e outras partes “carecas” daquela região, onde máquinas fizeram o trabalho para apenas dar um ar de “coisa sendo feita”, que com as águas torrenciais foram jogadas ladeira abaixo. A escola da Cohab IV foi quase inteiramente destruída pela lama oriunda daquela área terraplanada onde se deveria estar construindo 120 casas, mas que já faz um tempão só teve a terraplanagem e o estaqueamento – mas que pelo menos serviu para fotos de propaganda.

A região da Floriano Peixoto sofreu um novo abalo porque as obras lá, ainda estão inconclusas, malgrado a propaganda exaustiva do Executivo, além de ter deixado fortes supeitas de má execução. A região do São Benedito novamente sofreu inundação porque a construção das bacias de contenção no topo da Desembargador Manoel Arruda e as galerias de águas pluviais partindo dali até o local das inundações, até hoje insiste em não sair do papel.

O Thermas dos Laranjais foi inundado por falta de uma política adequadamente técnica para o escoamento das águas do Olhos D´Água na confluência com o Córrego do Matadouro, e também pela invasão praticada pelo clube, da área de manancial. O que deveria ser impedido pelo Poder Público. Ou pelo menos melhor trabalhado nesta questão. Estabelecimentos no centro da cidade, com a praça “careca”, escaparam por pouco. Mas o barro foi se alojar nos cruzamentos com a Aurora Forti Neves. A região do Iquegami inundou de novo, porque obra anunciada há tempos atrás, não passou da imaginação do secretário.

“Da parte do poder público, vou estar logo cedo em São Paulo na Defesa Civil pedindo recursos. Esse é o papel que o prefeito tem de cumprir nessa situação.”

Percebem, nesta declaração, o viés simplista do nosso alcaide? A falta de visão administrativa? É ela, a falta de visão administrativa, a provocar tamanho caos na cidade. A falta de planejamento em obras. A falta de um cronograma de execuções. Menos ímpeto propagandístico e mais resultados, menos discursos, menos insinceridades e menos falsa fé poderiam ter amenizado em muito, ou evitado no todo o que a cidade viveu no início da noite de ontem.

Até.