Amigos do blog, um tal senhor Regis Eduardo Bastian, que assina documento como presidente (AGAP[?]) de uma tal FEBRARP (Federação Brasileira de Artes Populares), localizada em Montenegro-RS, acaba de encaminhar para alguns órgão de comunicação da cidade um texto intitulado “A problemática dos festivais!”, onde faz uma análise dos problemas que imagina cercam os festivais de cultura popular pelo país e dedica um capítulo especial ao Fefol de Olímpia, mas descendo a detalhes que ficaria bem apenas a quem com ele convive há anos, ou mesmo aqui vive e dele conhece todas as nuances.
Tece comentários críticos, e opina, onde não deveria se imiscuir, na verdade cometendo uma descortersia, na nossa opinião de amante e ente por demais preocupado com as coisas por aqui. Desnecessário ter que ler tais linhas demeritórias e, quiçá, redundante sobre nossa Festa Maior. Além do que discorre sobre o futuro do evento propondo soluções do nosso ponto de vista inadequadas e totalmente fora do contexto daquilo que é a proposta original do seu criador e principal mentor, José Sant´anna. Eduardo Bastian é aquele mesmo que junto com seu grupo, foi impedido de vir se apresentar este ano em Olímpia.
Ele começa contando que “recentemente estivemos na Europa com o ‘Boi de Morros’ que já se fez presente em festivais de Olímpia (ano retrasado), atendendo festivais de folclore na Bélgica, França, Suíça e Holanda, alguns dos mais importantes festivais internacionais de folclore do mundo e lá mesmo já pude constatar que o mundo dos festivais de folclore está em apuros, com dificuldades econômicas, falta de público, etc. Na verdade foi apenas uma confirmação de uma tendência mundial iniciada a cerca de 4-5 anos atrás: a extinção dos festivais de folclore, situação sentida na pele em nosso próprio festival no ano de 2007, tido até então como o maior festival internacional de artes populares da América, reunindo a cada edição cerca de 20 países. Desde então muitos festivais deixaram de existir aqui no Brasil bem como em diversas partes do mundo, alguns deles muito grandiosos e importantes em seus respectivos países”.
ADENDO: Aqui, o missivista mistura alhos com bugalhos, espetáculo com manifestação cultural. Porque nós também já tivemos o nosso Festival Internacional, que acabou. Por falta de público e por dificuldades econômicas. Apesar da “casca” de evento de cunho cultural, de “entrelaçamento de culturas”, não passava de espetáculo de brilho, cores e luzes. Sendo assim, sempre carecendo de renovação a cada ano.
Mas, choca o que vem depois, uma mistureba de pensamentos disformes: “Em épocas de sociedade moderna, muito pouco se investe em cultura popular, folclore, uma vez que estas manifestações são consideras ultrapassadas pela grande maioria da população, e geralmente são manifestações da grande massa popular, gerando então uma falta de investimento por parte de nossos governantes, bem como iniciativa privada, devido a péssimas políticas culturais dos governos”. Entendeu?
ADENDO: Talvez ele tenha querido dizer que por estarmos numa sociedade moderna e sermos povo, muito pouco estamos investindo na nossa cultura, o folclore, porque estas nossas manifestações são consideradas por nós mesmos, que formamos a grande maioria da população, ultrapassadas, porque se bobear são manifestações da grande massa popular, que somos nós mesmos, e por isso acabaria gerando falta de investimento por parte de nossos governantes, pela iniciativa privada – que de resto não são massa, não são o popular – porque nossos governos têm péssimas políticas culturais. Entendeu?
Então, tá, vamos em frente: “Na atualidade, o termo mecenas perdeu o seu valor, não existe mais quem faça uma doação, patrocínio sem alguma recompensa ou incentivo fiscal e isto deve ser repensado não apenas pelos governantes más também pelos organizadores dos festivais que precisam apresentar um produto que agregue imagem ao patrocinador e que a logomarca não seja apenas mais uma num montante geral. Patrocinadores precisam de visibilidade! Entendeu?
ADENDO: Quem sabe a solução não estaria em uniformizar os integrantes dos grupos folclóricos, tipo folia de reis com camisetas da Coca-Cola, Moçambique com roupas que remetam a algum produto de consumo em larga escala e jingles, sim, jingles de campanhas publicitárias em profusão. O patrocinador, afinal, precisa aparecer!
Depois, diz o missivista que “a falta de interesse do público é o fator responsável pela extinção em massa dos festivais, a perda de seu público fiel. Mas porque o público deixa de comparecer: muito simples, já viram tudo isso várias vezes e porque teriam de ver mais uma vez?”.
ADENDO: Por que, então, festas de peão estão sempre cheias? Nelas o público não vai ver sempre as mesmas coisas?
Enfim, vamos em frente: “Existem exemplos clássicos de festivais que perderam cerca de 50% do seu público no decorrer de apenas oito anos, devido à falta de renovação dos festivais e isto tudo ocorreu por um simples motivo: falta de renovação!” Entenderam?
ADENDO: Quem fica sem renovação e depois sem renovação perde público.
Adiante: “Nenhum evento sobrevive por décadas sem apresentar coisas novas a cada edição! Você precisa chamar o público para o novo, pois o velho já saturou e não precisam ver mais.”
ADENDO: Todos para o Museu mais próximo, por favor!
Bom, aí ele vai dizer o que tudo isso tem a ver com Olímpia. Vamos lá:
“Olímpia é um exemplo clássico onde se agregam os dois fatores no mesmo festival, onde o mesmo corre um sério risco de extinção num futuro próximo: O público deixou de acompanhar o evento, posso afirmar com toda certeza que o FEFOL perdeu mais de 50% de seu público no decorrer de seus últimos 10 anos e isto sem sombra de dúvida tem relação com o fato de todo ano o festival ser praticamente a mesma coisa, não despontando interesse na população em ir uma vez gostar e voltar amanhã porque haverá algo novo na programação.”
ADENDO: Quando se faz algo com vistas a transmitir conhecimento e cultura, por meio de festivais, exposições, encenações, leitura etc., deve-se fazê-lo de forma linear e constante, mantendo-se sempre a essência daquilo que se quer transmitir, preservando sua estrutura e variando, mas nem sempre, o tema, enraizando o teorema. Assim, como colocar “algo novo” na programação, na acepção que o missivista dá ao termo?
E tem mais: “O festival precisa inovar unir o velho com o novo, penso que a postura de começar a voltar a ser o FEFOL de antigamente poderá ser desastrosa no final das contas, pois o público não quer apenas ver o folclore de raiz, o povo quer ver show, cor e emoção e não serão os grupos de raiz que conseguirão fazer isso e sustentar a estrutura do FEFOL, a não ser que ocorra uma mudança radical e o FEFOL realmente não precise se preocupar com público e sim fazer apenas um encontro de grupos folclóricos, mas ai não tem sentido fazer o festival! Então deve haver uma junção dos dois, porque não fazer dois festivais em um só? Um folclórico e outro parafolclórico? Cada um com seu espaço no festival. Espaço para isso há! O FEFOL em si precisa tomar uma atitude mais profissional e moderna e apresentar uma programação inovadora, agregando valores a sua imagem, uma programação que será seguida à risca com horários, ordem de apresentação sem grandes mudanças de última hora, evitando atrasos, cortes e suplementação de grupos. O festival ser de folclore, porém não ser folclórico em sua organização! Creio que inclusive a coordenação precisa de mudanças sérias para que tudo isso seja possível.”
ADENDO: Viram, o gaúcho não está para brincadeiras. Percebam que ele faz parte da turma que quer “modernizar” o Festival do Folclore de Olímpia. E vai mais adiante: propõe a divisão entre “pobres” e “ricos”, o divisionismo social presente numa festa que tem, entre seus objetivos, também o de fazer a elite social entender-se um pouco mais, conhecer-se, saber de suas origens, não ter vergonha de se olhar no espelho. E para isso é preciso que todos nós, amantes do purismo cultural, torçamos para que as coisas ganhem força seguindo por este caminho. O resto é mera tergiversação ilusória. Principalmente quando apontada por quem mora do outro lado do país, cultivador de culturas de outras plagas do mundo, consta até que com predominância argentina.
Mas, para concluir e, descartando o parágrafo final da missiva, que foca somente na questão do marqueting, como se lidar com cultura fosse qualquer coisa, eis o último trecho a reproduzir: “O jovem precisa ter mais espaço no festival tanto na organização, bem como na programação, pois o futuro do festival a eles pertence, o que será do FEFOL quando os “velhos guerreiros” não estiverem mais por aí?
ADENDO: Pois é, seu Regis, pois é. O que fazer quando os “velhos guerreiros” não mais estiverem aqui, não é? A juventude vai tomar conta? Pois bem, então é para ela que devemos voltar nosso foco. Não se poderá entregar tão importante evento nas mãos de uma juventude vazia, que já está delineando a sociedade do nada que vem por aí. Por isso o mais importante, do ponto de vista da prerservação dos laços do povo com suas raízes, é manter o nosso Fefol nos moldes em que está, sem “modernismos”. Porque cultura se absorve convivendo com ela. São pois os jovens que devem crescer à altura de alcançar a magnitude do que fazemos aqui, e não o que fazemos aqui ter que se apequenar a ponto de ser apreciado, absorvido e apreendido pelos jovens vazios que a sociedade atual está produzindo. E produzindo por mecanismos que o senhor mesmo revela em sua missiva eletrônica. Não acha?
Até.
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